Levado a júri popular pelo atropelamento de 17 ciclistas em Porto Alegre em 2011, o bancário Ricardo José Neis falou pela primeira vez à imprensa após o começo de seu julgamento, nesta quarta-feira. Depois do depoimento de duas vítimas, Neis disse que "jamais imaginou" a situação que o levou a acelerar contra manifestantes que participavam da Massa Crítica – pedalada mensal realizada em diversas cidades do mundo –, que classificou como "trágico".
– Mais cedo ou mais tarde outro cidadão qualquer de Porto Alegre se veria numa situação dessas. É trágico que isso tivesse que acontecer, até para a causa do ciclismo. Fui ciclista, andava de bicicleta todo domingo em Brasília, ia de uma ponta a outra do eixo monumental. Quando vim para Porto Alegre parei de usar porque, realmente, é muito perigoso. Acho ótimo que hoje tem ciclovia por todo lado – relatou.
Leia mais:
Às vésperas do julgamento de Ricardo Neis, ciclistas debatem rotina de riscos em Porto Alegre
"As pessoas me olham como se fosse um monstro", disse atropelador de ciclistas na Capital
Na manhã desta quarta-feira, duas testemunhas relembraram os acontecimentos de fevereiro de 2011, quando diversas pessoas ficaram feridas em razão do atropelamento, que ocorreu na Rua José do Patrocínio, na Cidade Baixa. A promotoria deu suporte às falas exibindo as imagens do atropelamento, que foram gravadas por participantes do ato e mostram Neis fazendo o que muitos chamaram de um "strike" de ciclistas (em alusão a um jogo de boliche). Ao longo do dia, outras 14 vítimas, além de testemunhas estão previstas para falarem ao júri. Após, quem irá depor, será o réu.
O motorista, que à época dirigia um Golf e teria ficado irritado ao ver a passagem bloqueada, acredita que o episódio contribuiu para chamar a atenção para a "questão da violência no trânsito".
– Fico muito chocado que para que isso (a construção de ciclovias) acontecesse tivesse que haver uma coisa trágica dessas. Que só depois de um acontecimento trágico desses a sociedade pudesse se abrir para a questão da violência no trânsito, que é muito trágico sempre.
Acompanhe ao vivo o júri de Ricardo Neis: