A mais célebre criação de Leonardo da Vinci ganha as ruas de Porto Alegre, somando pelo menos uma centena de versões exóticas. Há Mona Lisa branca, negra, verde, azul, morena, loira e ruiva preenchendo paredes e muros da região central da cidade com um pouco de cor e arte.
Montados com pequenos fragmentos de azulejos, cerâmica, vidro e espelho, os mosaicos no tamanho de uma folha A3 ainda abordam de religião a música – ao exemplo da Virgem Lisa na Avenida Osvaldo Aranha e da Mona Bowie na Salgado Filho. As versões de gatinha, esqueleto, feminista e cangaceira também estão entre as queridinhas.
– O pessoal tira foto, posa junto... É uma festa – conta o comerciante Paulo César de Oliveira, 45 anos, que vende frutas ao lado de um trio de mosaicos sobre o túnel da Conceição.
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A "mãe" das versões porto-alegrenses da Mona Lisa é a artista plástica Silvia Marcon, que se formou no Instituto de Artes da UFRGS e fez especializações em mosaico em Milão e em Verona, na Itália. Mais do que surpreender quem transita por esses locais, ela quer passar um recado:
– Além de serem figuras femininas, o que é interessante nesse momento de empoderamento, as Mona Lisas representam justamente a diversidade.
Silvia começou a fazer as "monas" e a espalhá-las pela cidade há três anos. No começo, confeccionava as obras com alunos dos cursos que ministrava – também há distribuídas por aí peças feitas por artistas convidados. Essa criação em conjunto é um dos motivos que fizeram Silvia não assinar a maior parte das obras.
– E também acho que fica uma curiosidade no ar – acrescenta.
Mas a ideia não se restringe mais às ruas, quanto menos às ruas de Porto Alegre. Silvia hoje recebe encomendas, participa de exposições e já instalou "monas" no Rio de Janeiro, em São Paulo, em Curitiba e até em Buenos Aires, na Argentina.
As cores e as roupas mudam, mas o sorriso não
Silvia viu a Mona Lisa "verdadeira" no Museu do Louvre, em Paris, há aproximadamente 25 anos, quando fazia um mochilão pela Europa. Lembra que na ocasião ficou até um pouco desapontada, porque imaginava a tela muito maior. Mesmo assim, escolheu o retrato da mulher de semblante sereno para as releituras pela capacidade que a obra tem de viralizar.
– Ela é conhecida em todos os lugares. Eu coloquei uma Mona na Favela Santa Marta, no Rio, e passaram umas crianças falando: olha a Mona Lisa! – lembra.
A Gioconda ainda dá à artista infinitas possibilidades na hora de criar: muda cor de pele, cabelo roupa – ou a deixa nua, mesmo. É permitido ainda colocar piercing, tatuagem e black power. Só não dá para mexer no sorriso, que tem nada menos do que cinco séculos de experiência em seduzir e intrigar.