Bagre nasceu e foi criado no bairro Belém Novo, na beira do Guaíba. Aprendeu a pescar aos 5 anos com o pai, Pituca, descendente de bugre que levava os peixes a remo do extremo sul da Capital ao Mercado Público. A mãe lavava as roupas dos "burgueses" nas águas do lago.
Aos 55 anos e morando no Chapéu do Sol, é uma das figuras mais conhecidas da vila. Mas se você chegar pedindo por Julio Silva de Oliveira, nome completo do homem, é bem provável que nunca o encontre. Ali ele é o Bagre. Já foi também o Julião do Pituca "nos tempos de lobo mau" - conta que já foi alcoólatra e brigão. Os cabelos grisalhos passam da altura dos ombros justamente em função de uma promessa pra acabar com essa fase: já faz 11 anos que jurou não os cortá-los mais, se conseguisse largar o álcool.
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Bagre mesmo se define como uma "mancha negra de Belém Novo que prova que existe mudança". Isso porque, depois que o vício quase o levou para o caixão, decidiu que queria fazer alguma coisa pelo seu Guaíba, onde seu pai nasceu dentro de uma canoa. Decidiu que queria repassar o que aprendeu na vida aos mais novos, sem tirar os pés da água, e homenageou o pai no nome do projeto que criou: Pitucanoa.
Ele leva a gurizada do Chapéu do Sol para nadar no Guaíba, para andar de barco e ensina a fazer canoas de brinquedo dos galhos da corticeira. Também cria mudas de sarandi vermelho dentro de potes plásticos, tênis e até de uma térmica que foram descartados pelo homem e acabaram por poluir a costa do lago.
Bagre ensina quem quer aprender a pescar, lembrando que cada peixe, ave e semente são importantes para um ciclo. Ele destaca a necessidade de respeitar a piracema, o período de desova dos peixes.
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- Nós estamos matando nossas matrizes. Nossos peixes não tendo chance da primeira reprodução.
E explica:
- Até os 21, 22 anos do meu pai, ele pescava peixe dourado aqui no Belém Novo. Vi ele dar tarrafeada e tirar 36 piavas. Vamos ali agora: damos 360 tarrafeadas e não pegamos mais nem o cheiro delas. Vi nossas piavas sumir. Minha filha de 8 anos, quando tiver a minha idade, não vai mais ver nem lambari. Hoje a gente pega os peixes pequenininhos, sem nem dar a oportunidade de fazerem a desova.