Um dia após o início do funcionamento do aplicativo Uber em Porto Alegre, as repórteres Bruna Scirea e Bruna Vargas fizeram um teste. O objetivo era comparar o atendimento oferecido pelos táxis da Capital com o novo serviço, sem que se identificassem como repórteres de ZH.
Os carros foram pedidos simultaneamente por meio dos aplicativos do Easy Taxi e do Uber, às 10h45min desta sexta-feira. Em poucos segundos, o táxi convencional estacionava na esquina das avenidas Ipiranga e Erico Verissimo. Após quatro tentativas de chamado, o carro do Uber levou cerca de 15 minutos para chegar.
O percurso até o aeroporto Salgado Filho foi exatamente o mesmo nas duas viagens e levou, nos dois casos, 20 minutos. A segunda diferença foi na hora do pagamento: o preço do Uber foi cerca de 20% mais barato do que o do táxi normal. Veja, abaixo, a comparação entre os dois serviços e o relato das corridas.
Uber: atendimento simpático, mas sem regalias
A repórter Bruna Vargas conseguiu um Uber na quarta tentativa
Foto: Diego Vara, Agencia RBS
Ainda não se pode ter pressa para usar o Uber em Porto Alegre. Foram quatro tentativas e 15 minutos de espera até que um Siena preto surgiu à esquina das avenidas Ipiranga e Erico Verissimo.
Sorridente, o condutor pediu desculpas pela demora - a espera levou o triplo dos dois minutos estimados pelo app. Depois de acertar o trajeto e trocar algumas palavras, ouço uma oferta intrigante em meio ao fluxo intenso da Avenida da Legalidade:
- Se tu quiseres, tem água no porta-malas - disse-me o motorista, sem explicar como faria para pegá-la e servi-la caso eu aceitasse.
No ramo desde o ano 2000, ele ainda tenta se adaptar ao serviço personalizado sugerido pelo aplicativo:
- Estou pensando em ir a um atacado comprar umas balas para colocar aqui. O Uber pede, né, que a gente tenha água e bala para os clientes, abra a porta do carro. Dão até um kit com guarda-chuva para a gente buscar o passageiro quando está chovendo - contou.
O motorista disse já ter trabalhado em empresas e táxis. Há cerca de um ano e meio, após deixar o último emprego, quis empreender no ramo do conserto de relógios. O negócio não deu certo, e o jeito foi retornar ao volante.
Antes de ser selecionado pelo app, o homem de camisa xadrez, cabelo bem penteado e óculos escuros atuou em uma espécie de "Uber executivo", para executivos e empresas. No primeiro dia do Uber X, trabalhou quase 12 horas. Empolgado, retomou o expediente, na sexta, às 9h30min.
Falante, o motorista proporcionou uma viagem segura e agradável. O carro estava em bom estado, o ar-condicionado em uma temperatura razoável e, durante a corrida, o motorista perguntou se deveria trocar o rock que soava baixo no smartphone por outro tipo de música, o que recusei.
Sem pressa, foram 20 minutos para chegar ao aeroporto Salgado Filho. O trajeto combinado foi seguido à risca, e, ao final da corrida, ele se ofereceu para aguardar caso fosse preciso. Agradeci e encerramos por ali.
O aplicativo não mostrou o valor final no smartphone do motorista, o que causou certo desconforto, mas enviou o recibo para o meu. Estava dentro da estimativa inicial: R$ 25. Encarei o preço justo e a viagem tranquila como uma certa compensação pela longa espera, mas desembarquei ainda curiosa para conhecer o Uber com regalias dos relatos que vi na internet.
Táxi: viagem simples e sem inconvenientes
O táxi da repórter Bruna Scirea chegou em poucos segundos
Foto: Diego Vara, Agencia RBS
Talvez não tenham sido nem 15 segundos entre tocar a tela do celular para pedir um táxi pelo Easy Taxi, e ele chegar. O motorista passava pela Ipiranga exatamente no momento. Levei sorte.
- Ipiranga, 999? - perguntou o homem de dentro do Fiat Palio vermelho-alaranjado.
- É para Bruna? - devolvi, considerando que o que identifica uma chamada é a pessoa, não o local.
Embarquei comentando que a resposta havia sido rápida. Ele reconheceu: teve sorte. Era um carro não muito novo, mas em bom estado de conservação. Limpo, com capa no banco traseiro, e os acessórios do cinto de segurança à disposição. O vidro do motorista estava aberto, mas o vento não chegava a descabelar. A temperatura estava agradável - e o rádio, desligado. Foi quando pensei: tô com sorte.
Aí o taxista me contou um pouco do funcionamento do Easy Taxi em comparação com o 99 Táxis. Diz ele que, no Easy, mesmo motoristas mais distantes podem fazer as corridas, basta ser rápido e aceitar primeiro; já o 99 "vai eliminando os mais distantes", e faz a corrida aquele que estiver mais perto. Aproveitando o embalo dos esclarecimentos, perguntei se o táxi dele aceitava pagamento no cartão - ao que ele respondeu que sim, complementando: "quase todos aceitam".
Então resolvemos fazer silêncio. Ele se concentrou no caminho, feito de forma prudente e tranquila. Eu, no celular. Vinte minutos depois, estávamos no aeroporto Salgado Filho. A corrida saiu por R$ 31,30, mas ele fez por R$ 30 - e olha que eu nem chorei o descontinho. Pedi se ele poderia me dar um recibo. Ele disse que, claro, preenchendo os dados em um papel com identificação do 99 táxis (eu o chamei pelo Easy...). E me deu um tchau - tão de qualquer jeito que, na verdade, já nem sei mais se veio acompanhado de um "obrigado".