Em um quinto dos dias de 2015, a pensionista Solange Oliveira Nascimento, 45 anos, do Bairro Americana, em Alvorada, foi forçada a ficar longe de casa por conta das cheias. Moradora do final da Rua Gaspar Martins, distante cerca de 2km do Rio Gravataí, Solange e os dois filhos - de 12 e 18 anos - estão há 32 dias seguidos vivendo numa barraca de lona, dentro do Ginásio Municipal de Alvorada.
Outras 105 pessoas dividem o mesmo prédio. A área lembra um campo de refugiados. A diferença é que, ao invés da guerra, eles fugiram da água que insiste em engolir 76 ruas dos bairros Americana e Nova Americana.
Esta é a terceira enchente sofrida pelos moradores da cidade somente neste ano - as outras ocorreram em junho e em julho. Nas duas primeiras, Solange ficou outros 30 dias fora de casa, onde a água chegou a 2m de altura.
- Desta vez, nem tive coragem de voltar lá. Meu filho mais velho disse que perdemos o pouco que tínhamos, dos móveis da sala até os da cozinha. Saímos só com umas sacolas de roupas, duas bicicletas e uma televisão - comentou, ontem, enquanto recebia sanduíche e café com leite distribuído por voluntários.
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Na Gaspar Martins, onde está a casa de Solange, a água permanece na via e dentro dos pátios e das casas em terrenos mais baixos - caso da moradia da pensionista. Onde o alagamento se foi, o odor forte ainda impera depois de tantos dias com esgoto, lixo e água do rio tomando conta da rua.
Ginásio se transformou em espaço para famílias atingidas pelas cheias. Foto: Andréa Graiz
"Sinto falta"
Desde 24 de setembro, 156 pessoas seguem abrigadas no ginásio e no Centro Educacional Anísio Teixeira, em Alvorada. Foram 10.684 pessoas atingidas e 3.040 desalojadas pela enchente mais recente no município. A Secretaria Municipal da Fazenda decidiu liberar do IPTU de 2016 os moradores atingidos pelas cheias. Para tornar-se isenta, a família deve se cadastrar na prefeitura.
Enquanto aguarda a água voltar ao leito do Gravataí, Solange segue na morada improvisada número 24 - onde tem apenas algumas roupas, três colchões doados e a tevê. Não há roupa de cama, só cobertores.
- No mês passado, quando a água voltou a subir, eu e meus filhos chegamos a passar uma noite na rua por falta de alternativa. Agora, pelo menos, temos um teto e auxílio. Mas sinto falta do meu canto - desabafou.
Como ajudar
* A prefeitura montou uma central de doações na Secretaria de Trabalho e Desenvolvimento Social (Rua Wenceslau Fontoura, 126).
* Os atingidos pelas cheias precisam de doações de alimentos, materiais de higiene e colchões.