Com o avanço dos aplicativos em Porto Alegre, as rádio táxis começam a sofrer o impacto das novas tecnologias. Segundo o Sindicato dos Taxistas, cerca de 40% dos motoristas deixaram de pagar mensalidades para as rádios, que vão de R$ 150 a R$ 500, e estão trabalhando somente com aplicativos. As informações são da Rádio Gaúcha.
A mudança atinge a frota de empresas como a Tele Táxi, pioneira no sistema de rádio na Capital, que passou de 350 carros cadastrados para 180 em menos de um ano. As rádios também tiveram queda nas ligações de até 40%, segundo um levantamento da Rádio Gaúcha.
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As empresas consultadas justificam que a redução está associada tanto ao uso dos aplicativos quanto ao período de crise econômica. O momento é de transição entre um sistema e outro tanto para taxistas quanto para usuários.
A professora da UFRGS Rosa Nívea Pedroso não tem carro e utiliza lotações e táxis como meios de transporte. Há 20 anos, é usuária de rádio táxis e, há apenas seis meses, aderiu ao aplicativo. No entanto, ainda não abandonou o método tradicional.
- Utilizo tanto o Easy Táxi quanto a rádio taxi. Em dia de chuva, eu chamo o Easy Táxi, e nos outros horários do dia, eu chamo o rádio taxi em função da segurança que a rádio táxi passa para nós, usuários - explica.
De acordo com o Sintáxi, 30% dos usuários já migraram completamente para o aplicativo, principalmente os jovens. As rádio táxis ainda são a preferência de clientes que não estão habituados com a tecnologia. Já entre os taxistas, o novo cenário divide opiniões.
O taxista Paulo Roberto Arruda chegou a se desvincular de uma rádio táxi durante um mês para trabalhar somente com chamadas do aplicativo, mas acabou voltando. Ele se sente mais seguro com a empresa e também percebeu que não garantiria o sustento apenas com o aplicativo.
- Durante a jornada de 12 horas, o aplicativo não dá o rendimento que uma rádio táxi dá. Fiquei um mês afastado e retornei pelo fato de eu trabalhar um pedaço da noite e um pedaço do dia. Principalmente à noite tem que ter rádio táxi, me sinto mais seguro trabalhando, não me exponho a risco. Pessoal da rua dificilmente eu pego - conta.
Já o taxista Cleberson Bitencourt afirma conseguir dez vezes mais corridas com o aplicativo do que com a rádio táxi e acredita na segurança do aplicativo pelo cadastro obrigatório dos clientes.
- Na rádio, faço umas 20 corridas por mês, e no aplicativo 200 corridas, em média. É bem mais vantajoso e bem mais seguro do que pegar alguém na rua, porque todos os passageiros são cadastrados - defende.
O taxista Gustavo Consenza admite que o faturamento aumentou em 80% com o aplicativo, mas garante que ainda é possível trabalhar aliando a rádio táxi e o novo sistema.
- Uso tanto aplicativo quanto a rádio. Um depende do outro. O aplicativo nos passa corridas mais próximas e aumentou o faturamento, mas a rádio ainda é bastante útil. Tem pessoas que não gostam do aplicativo, então ela ainda tem bastante tempo de vida - afirma.
Apesar das divergências, as empresas que oferecem aplicativos veem o cenário do mercado de forma positiva. Segundo a Easy Táxi, 70% dos 10 mil motoristas de Porto Alegre estão cadastrados no serviço. A 99Táxis, que começou a implantar o aplicativo há cerca de um ano na cidade, conta com 35%.
Para competir com a novidade, as rádio táxis passaram a investir em aplicativos próprios. Das sete rádios, cinco possuem aplicativo. Mesmo assim, a nova modalidade ainda não é divulgada e recebe resistência de taxistas e clientes que não conseguem se adaptar à tecnologia, além da manutenção do sistema, que exige ajustes contínuos.
Acompanhando as mudanças, a aposta do presidente do Sintáxi Luiz Nozari é a extinção gradual das rádio táxis, já que os aplicativos oferecem vantagens em relação ao trajeto e comodidade.
- O aplicativo oferece maior racionalidade no deslocamento do táxi, fazendo com que rode menos vazio. Isso significa ganho financeiro, ganhos também em menor poluição na cidade e as pessoas têm mais segurança, porque podem acompanhar até mesmo o deslocamento de um familiar, de um amigo. Então essa nova formatação veio para ficar. O sistema atual tem um tempo de vida, que vai ser definido pela fidelidade do cliente, pela adaptação das novas rádio táxi, que se não usarem essa nova forma, certamente deixarão de existir - explica.
No entanto, ele também tem uma ressalva para o avanço dos aplicativos. Atualmente, o custo para o taxista é um percentual sobre as corridas pagas pelo celular. Se o serviço passar a gerar mais cobranças à medida que o novo sistema se consolida na preferência de motoristas e usuários, Nozari acredita que a situação poderá se reverter.