Uma universitária contou ter sido atacada na Avenida João Pessoa e arrastada para o Parque da Redenção, na Capital, onde foi estuprada ao meio-dia em 9 de março, um dia depois do Dia Internacional da Mulher. O que aconteceu naquele dia foi relatado pela jovem de 21 anos em um texto publicado de forma anônima nesta quarta-feira na página Se essa rua fosse nossa, espaço dedicado a mulheres no Facebook.
Às 20h, seis horas após a publicação ir ao ar, o post tinha mais de 3,5 mil curtidas e 1.290 compartilhamentos.
"Pelas minhas costas, dois homens me agarraram e me arrastaram pra dentro do Parque da Redenção. Eles me taparam a boca e meus gritos eram abafados pelos dedos dos meus agressores e o tráfego de carros da rua. ( ) A esta hora, eu já gritava muito e meus gritos se ouviam de longe, porém todos que passavam, e também outros que estavam ali, pareciam ver uma cena cotidiana. Ninguém se solidarizou ou nem sequer parecia ver aquilo com espanto", conta ela em um dos trechos.
Veja a publicação no Facebook:
Na noite desta quarta-feira, a universitária falou com a reportagem de Zero Hora, que optou por não revelar o nome da jovem, para preservá-la. No início da conversa, ela mesma pediu isso:
- Primeiro porque tenho medo de represália e, segundo porque temo pelo julgamento das pessoas.
Questionada sobre o porquê de tornar público o ocorrido, a estudante disse que queria dividir com as pessoas tanto o fato da insegurança, que, segundo ela, é "ainda mais forte no trajeto universitário", quanto como é feito o atendimento à mulher vítima de violência na Polícia Civil e no Departamento Médico Legal (DML), responsável pelos exames de corpo de delito.
- Eu faço parte de grupos feministas e sou engajada na causa. Mas, um dia antes de isso acontecer comigo, no Dia da Mulher, eu mesma não sabia que havia tanto descaso justamente onde deveríamos nos sentir mais protegidas. Fiquei chocada - resumiu ela, que detalha, no texto compartilhado, ter sido desestimulada a registrar a ocorrência dentro da delegacia, entre outras críticas ao atendimento policial.
Ainda segundo a jovem, não houve penetração, e, ao final, a dupla de agressores revirou sua bolsa e levou o celular. "Atiraram minha bolsa em cima de mim e saíram correndo. Meu valor estava ali taxado: o preço de um smartphone popular", narrou ela no Facebook.
Conforme o Código Penal Brasileiro (artigo 213), qualquer gesto que cause constrangimento, como carícias forçadas, pode ser enquadrado como estupro. Em caso de condenação pela Justiça, o agressor pode ser punido com uma pena que varia de seis a 10 anos de reclusão.
Procurada, a coordenadora das Delegacias de Polícia Especializadas no Atendimento à Mulher (Deam), delegada Rosane de Oliveira Oliveira, disse que soube do caso, mas que só conseguiria obter detalhes e fornecer informações na quinta-feira.