É na primeira praia considerada do Litoral Norte que, durante nove meses do ano, o zelador César Ernesto Correia da Silveira, 55 anos, vive praticamente isolado num condomínio de cinco grandes ruas, com cerca de 200 casas. Movimento de pessoas em Balneário Dunas Altas, pertencente a Palmares do Sul, só entre dezembro e fevereiro. A partir de março, são ouvidos apenas os passos de César misturados ao som do mar.
Há quatro anos, o "xerife de Dunas Altas", como César tornou-se conhecido entre os veranistas, é o faz-tudo do balneário. Apenas ele e outro funcionário moram durante todo o ano na praia. Para manter a área segura, também contam com câmeras e seguranças particulares 24h.
Ex-morador de Cachoeirinha, César transferiu-se para Rei do Peixe, em Balneário Quintão, dois anos antes de ser contratado para cuidar do condomínio. César tirou de letra o desafio de viver sozinho.
- A primeira impressão que tive foi a sensação de total liberdade. Sem cerca, sem fronteiras. Saí da prisão de Porto Alegre e da Região Metropolitana - comenta.
"Me sinto bem no silêncio"
Apesar de ter gostado da mudança, César teve problemas no meio do caminho. Um ano depois de transferir-se com a esposa para Dunas Altas, acabou se separando. Ela não teria suportado o isolamento forçado e decidiu voltar para Cachoeira do Sul, onde vive parte da família.
- Eu quis ficar. E conto os dias para acabar a temporada de veraneio. Me sinto bem aqui, no silêncio - confessa.
Durante os nove meses em que o balneário fica vazio, César costuma receber familiares uma vez por ano. Além deles, tem as visitas inesperadas dos andarilhos que passam pela praia em direção à orla Sul do Estado e dos cachorros, abandonados por moradores de outras regiões.
- No início, tive dificuldades com o tal vento Nordestão. É de cortar. Mas me acostumei depois das primeiras ventanias. Até já gosto do barulho que ele faz - diz, aos risos.
Nas mãos, o molho de chaves demonstra a confiança dos proprietários das casas do balneário. Quando não estão na praia, todas ficam sob os cuidados do "xerife". Construtor civil por profissão, ele atua como zelador e até como agente imobiliário improvisado - com a autorização dos donos, negocia aluguéis na praia durante o inverno, para pescadores e turistas de outros Estados, e recebe uma parte do dinheiro.
Meta é comprar casa
Se depender de César, a próxima meta é comprar uma das casas - hoje ele mora numa cedida pelo proprietário do condomínio - de Dunas Altas para nunca mais deixá-la.
- Este lugar é tão importante que o sol aparece todos os dias, independente da época. Aqui, vivo as quatro estações num único dia. Tenho vento, frio, chuva e sol sempre. É um paraíso - declara-se o "xerife".
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César no ponto mais alto do condomínio: a caixa d'água
Foto: Mateus Bruxel
César e a cadela Piriguete em meio ao Condomínio
Foto: Mateus Bruxel