Um grupo opositor à atual direção do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Transportes Coletivos e Seletivos Urbanos de Passageiros da Cidade de Porto Alegre (Stetpoa) se reuniu na tarde desta quarta-feira e decidiu denunciar ao Ministério Público (MP) irregularidades na assembleia da categoria realizada na terça-feira. De acordo com Luís Afonso Martins, que é delegado sindical da Carris e conselheiro municipal de transporte, o formato da votação prevista pelo sindicato para definir se os trabalhadores aprovam ou recusam a proposta dos patrões - descentralizada, com urnas nas garagens das empresas - não está prevista no estatuto.
- É uma alternativa criada por eles. Rasgaram o estatuto, estão descumprindo itens. É isso que vamos denunciar no MP - disse Afonso.
Cerca de 20 rodoviários se reuniram em um posto de combustíveis em frente à Praça Florida, no bairro Floresta. De longe, em um bar na Rua São Carlos, rivais integrantes do sindicato observavam a movimentação, contando quantas pessoas estavam no posto. A todo momento, faziam e recebiam ligações no celular. Depois do encontro no posto, os integrantes da oposição se dirigiram ao MP, mas o pessoal que recebe a documentação já havia encerrado o seu turno de trabalho. A previsão é de que a denúncia seja entregue na tarde de quinta-feira.
Formato de votação fragmentada é questionada por opositores
A assembleia de terça, realizada no Ginásio da Brigada Militar, terminou sem definição sobre a proposta das empresas de ônibus de conceder aumento de 8% de aumento nos vencimentos, contra os 11,5% pleiteados pelos trabalhadores. Após a proposta ser lida pelo secretário-geral do sindicato, Sérgio Vieira, a maior parte dos trabalhadores que ocupavam as arquibancadas do ginásio se mostrou contrária e começou a protestar. O presidente do Stetpoa, Adair da Silva, encerrou a consulta e afirmou que ela deve ser feita de forma fragmentada. Para os opositores da direção do sindicato, estava claro que a proposta havia sido rejeitada.
Adair garantiu que o plebiscito é uma opção de consulta aos 8,5 mil rodoviários prevista no estatuto. Ele considerou boa a proposta feita pelas empresas, destacando que concederia o direito à metade dos tíquetes-refeição do mês quando o trabalhador tirasse férias.
- A gente está seguindo todas as regras. Eles são uma meia dúzia que estão do lado dos que perderam a eleição. Não vamos deixar que a categoria caia de novo na desgraça que foi o ano passado. Fui a Pelotas e os rodoviários de lá caíram na besteira de também fazer greve (de 13 dias, entre novembro e dezembro passados). A categoria perdeu tudo - argumentou Adair, relacionando o caso de Pelotas à greve de 15 dias dos rodoviários de Porto Alegre, no início de 2014.
Bloco de Luta planeja novos protestos
Uma forma de o grupo opositor à direção do Stetpoa aumentar a pressão pelas reivindicações será integrar os protestos do Bloco de Luta pelo Transporte Público, ausentes das ruas há muitos meses. Um dos mais ativos participantes dos protestos, Matheus Gomes estava na reunião do grupo nesta quarta-feira e confirmou que na segunda-feira haverá um encontro de integrantes do Bloco para definir a data da manifestação. A bandeira principal do Bloco será a defesa da encampação do sistema de ônibus da cidade pela prefeitura.
Já a votação do Stetpoa sobre a proposta patronal está marcada para começar na madrugada. O horário vai das 4h da próxima terça-feira até a 1h de quarta-feira. Os rodoviários deverão responder à pergunta se aceitam a oferta de reajuste de 8% ou não.
As principais reivindicações
Redução da jornada: os opositores querem redução de sete horas e 10 minutos para seis horas. Segundo eles, a carga menor é importante para garantir o emprego de motoristas e cobradores quando se efetivar o novo sistema de ônibus da Capital, com os BRTs, porque a previsão de reduzir o número de ônibus que vão ao Centro deverá refletir no corte de postos de trabalho.
Salário: a categoria quer 11,5% de reajuste, mas as empresas oferecem 8%. A oposição defende os 11,5%, e a diretoria do sindicato considera que a proposta patronal "não é ótima", mas é boa.
Intervalão: a oposição quer o fim das três horas e 50 minutos de intervalo.
Tíquete-refeição nas férias: a direção do sindicato defende que é um grande avanço para a categoria que as empresas tenham aceitado fornecer metade dos tíquetes mensais durante as férias.