Quase arrasado de tanta depredação e sujeira, o monumento mais antigo de Porto Alegre será resgatado da obscuridade na manhã de quarta-feira. Desde 1936 na Praça Dom Sebastião, no bairro Independência, a obra Guaíba e Afluentes será deslocada para um local mais protegido de vândalos, os jardins da Hidráulica do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae), no bairro Moinhos de Vento.
O resgate é uma tentativa de acerto de contas da cidade com a sua história. Feito pelo arquiteto italiano José Obino em mármore de Carrara e instalado em 1866 na Praça da Matriz para abastecer a população de água, o conjunto escultórico embelezou o local até 1911, quando o governo local decidiu colocar em seu lugar uma estátua em homenagem a Júlio de Castilhos.
Sair da Praça da Matriz foi o início do calvário da obra, esquecida em um depósito da prefeitura. Em 1924, o conjunto foi vendido para uma marmoraria e estava para ser transformado em pó quando uma mobilização popular conseguiu salvar a maior parte dele - a figura do menino que representava o Guaíba desapareceu -, obrigando a prefeitura a comprá-lo de volta.
Já na Praça Dom Sebastião, ao lado do Colégio Rosário e em frente à Beneficência Portuguesa, as esculturas sofreram todo tipo de vandalismo. Até alvo de pedras e outros objetos as estátuas viraram. Os ataques se agravaram em 2010, quando as grades que protegiam o monumento desapareceram.
Previsão é que a operação dure o dia todo
A operação poderá durar o dia todo. A previsão é que o caminhão Munck que fará o trabalho saia da garagem às 7h30min, devendo chegar por volta das 8h. Munido de um guindaste, ele vai erguer as estátuas para que elas sejam colocadas em um estrado e depois cercadas de madeiras, praticamente encaixotadas. Depois, duas das quatro figuras serão colocadas no caminhão e levadas até a Hidráulica. As outras duas seguirão depois.
Com um cuidado provavelmente só visto em suas primeiras décadas de existência, as estátuas serão posicionadas sobre os pedestais já construídos em seu novo lar. Então poderão ser limpas e recuperadas.
Presidente da Associação dos Moradores e Amigos do Bairro Independência (Amabi), Diônio Roque Kotz lamenta que o monumento, tão importante para a história da cidade, deixará a praça. No entanto, ele entende a mudança:
- Nossa vontade era de manter aqui, mas a gente bate de frente com a nossa realidade de vandalismo e falta de educação das pessoas, que terminam estragando todo o patrimônio do município. Aí fica difícil deixar em um espaço aberto sem policiamento constante. E além do mais a obra vai estar na Hidráulica, que fica aqui perto e tem proteção maior.
Chuva e documentação ainda podem atrasar a retirada das estátuas
O chafariz que completa a obra já está na Hidráulica. Restam na Praça Dom Sebastião as duas figuras femininas que simbolizam os rios Caí e Sinos, conhecidas como ninfas, e as duas masculinas que representam os rios Jacuí e Gravataí, chamados de netunos.
Dois detalhes ainda poderão atrasar a operação para quinta-feira. Primeiro, a chuva: com os objetos molhados, a chance de que escorreguem das amarras que os transportarão é maior, por isso, o atividade teria de ser suspensa. Segundo, um documento da prefeitura chegou sem assinatura ao engenheiro Bruno Marantes Sanchez, da empresa Cisal, que realizará a operação. Ele aguarda ainda para esta terça-feira a assinatura que libera o serviço.
Destino das estátuas estava sendo preparado nesta terça-feira na Hidráulica do Moinhos de Vento
Foto: Ronaldo Bernardi