Assim que me mudei para Porto Alegre, tratei de encontrar por aqui o meu pedacinho de Gravataí, onde cresci e de onde só tenho boas lembranças. Vim para morar mais perto do trabalho, e considerava a mudança uma aventura, incursão de verdade numa vida de gente grande. Entre os bairros próximos ao prédio de Zero Hora e da Rádio Gaúcha, achei meu canto na esquina da Marcílio Dias com a Múcio Teixeira.
Com malas e caixas ainda tomando conta da sala, saí pelas ruas para me apropriar do Menino Deus. Procurei um mercado, uma farmácia, uma locadora de vídeos para chamar de meus. Impressionava o fato de me reconhecerem como gente nova no bairro. Até ser Gabrieli, fui a "guria do 407", a "menina de Gravataí", a "moça que fala no rádio", mas sempre fui recebida com carinho. Aos poucos, me sentia membro de um clubinho de gente bacana e muito simpática, e morria de vontade de retribuir.
Num domingo, uma senhora me atacou na saída do supermercado e pediu que cuidasse do seu cachorro por "dois minutinhos, só o tempo de comprar uns cacetinhos e margarina". Foi um marco: eu tinha passado de novata para veterana, digna de ser solicitada para uma tarefa que, a meu ver - e na visão de todos que têm cachorro, creio eu -, era de máxima importância. Aquilo significou tanto que, passados quase 15 anos, vez que outra eu vigio cachorros na porta do mesmo súper. Peço ao meu marido que vá adiantando as compras e fico ali fora olhando o bicho enquanto o dono não volta. Ninguém me pediu, mas ser solícito e gentil até com desconhecidos parece fazer parte do código de conduta do clubinho do Menino Deus.
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