Com a virada no calendário e a entrada em novembro, pode-se visualizar com certa proximidade uma das datas mais comentadas - com farta dose de deboche - dos últimos tempos.
No final da tarde desta quinta, no primeiro dia do penúltimo mês deste que pode ser o último ano, representantes da astrologia, da filosofia e da ciência se reuniram, no Memorial do Rio Grande do Sul, para discutir o fim do mundo e oferecer suas probabilidades a uma pergunta: e se não acabar?
Previsto para 21 de dezembro, de acordo com uma interpretação que se faz do calendário maia, o provável apocalipse inspirou Amanda Costa a começar sua participação, na Sala dos Jacarandás, recitando E o Mundo Não se Acabou, canção de Assis Valente, composta na década de 1930, à época de outra previsão catastrófica.
- O fim do mundo é um mito muito antigo que tem relação com o início e não com o fim. Vêm desde as sociedades primitivas essas ideias de renovação cíclica da vida - disse a astróloga.
Na porção mais densa da conversa, a filósofa Izabel Bellini Zielinsky, guiando seu raciocínio pela poesia, citou Habermas, Hegel, Freud, Kant e o Big Bang.
- E se não acabar? Como diria Cecilia Meireles, teremos a alada forma. O que significa essa alada forma? Que o homem pode voar - sugeriu Izabel.
O biólogo José Roberto Goldim, do Serviço de Bioética do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, também exemplificou à plateia que teorias sobre a extinção coletiva da humanidade são recorrentes. Resgatou um episódio familiar divertido, vivido em 1961, durante férias em Santa Catarina. "Hoje é o dia do fim do mundo", proclamava a previsão de um guru indiano reproduzida em um jornal. Naquela tarde, um temporal que preteou o céu parecia justificar a manchete, e o pai de Goldim, brincalhão, iniciou seu ritual de despedida deste plano, cumprimentando as pessoas que estavam hospedadas no mesmo hotel. Teve gente se apavorando.
- Em todos os mitos que usam a figura do juízo final, sempre se abrem as portas da eternidade. Temos que pensar assim: quantas pessoas vivem grudadas numa situação que está no passado, com a tristeza do remorso e da saudade? E tem gente que vive também não no presente, mas jogando tudo para o futuro. Talvez a grande discussão, ao refletir a respeito da finitude, seja: afinal, a gente está onde? Se a gente está pensando neste momento em que está, a gente está é vivendo - concluiu o biólogo.
Os palestrantes atenderam a solicitações do bom público presente - 70 pessoas. Impossibilitado de seguir debatendo, o trio levou questões para casa, para um retorno posterior aos espectadores. Crenças, desconfianças e brincadeiras à parte, Amanda tranquilizou os mais ansiosos com o que já conseguiu prever a partir de suas observações astrais:
- Em 21 de dezembro, não tem nada catastrófico no céu.