É o próprio autor mexicano Juan Pablo Villalobos quem admite: não consegue deixar de fazer graça. Radicado em São Paulo, o autor do surpreendente romance de estreia Festa no Covil conversou nesta quarta, na Praça da Alfândega, sobre humor com Cíntia Moscovich e Fabrício Carpinejar. Para ele, tanto o México quanto o Brasil têm problemas que só podem ser encarados com humor ou drama. Ele escolhe o riso.
- Nossas sociedades têm muitas deficiências, muitas questões a resolver. No nível político, nossos países são absurdos, então a atitude diante disso pode ser a de rir ou a de pender para o trágico, o dramático - disse o autor à reportagem de Zero Hora, em um português fluente e quase sem sotaque.
Justamente por estar morando no Brasil, Villalobos foi convidado pela Granta inglesa para escrever textos apresentando a edição da polêmica seleção dos 20 Maiores Escritores Brasileiros anunciada em julho deste ano. O resultado tem sido publicado no site da revista (www.granta.com).
São textos engraçadíssimos sob o ponto de vista de um "emissário comercial extraterrestre" enviado ao Brasil. O mais recente é um hilário guia Brasil: Modo de Usar, com coisas como "O sistema bancário brasileiro foi criado por um escritor checo chamado Franz Kafka" ou "Dicas que podem salvar sua vida: nunca verbalize uma única opinião negativa sobre música brasileira".
- Tenho certeza de que eles esperavam um ensaio, sério, apresentando aspectos culturais do Brasil, mas preferi apresentar meu olhar bem-humorado de estrangeiro residente.
Na mesa que dividiu com Carpinejar e Cíntia, provocado pelos interlocutores, falou da construção de seu romance, narrado em tom de fábula sarcástica pela voz de uma criança filha de um barão do tráfico:
- Eu pensava em fazer a história de um garoto com um desejo esquisito, o de ter um hipopótamo. Depois, pensei o que aconteceria se ele pudesse realizar esse desejo. Só sendo filho de alguém poderoso, um narcotraficante.