No dia temático dedicado à poesia na Feira do Livro, houve espaço tanto para o poema de inspiração rural quanto para a poesia urbana. Em encontro com o público na Sala dos Jacarandás, o poeta Carlos Nejar falou sobre a abordagem dos poemas épicos que compõem seu novo livro, O Homem do Pampa.
- O livro é uma suma do Rio Grande do Sul, da sua cultura, do homem, da mulher, da geografia, esta tão importante quanto a história para os gaúchos - avaliou o Secretário Estadual da Cultura Luiz Antonio de Assis Brasil, que mediou a conversa.
A obra de Nejar está dividida em duas partes. Os poemas campeiros de A Espuma do Fogo fazem uma representação do pampa e o que ele significa. Abordam a história do Estado, com os conflitos bélicos e as sucessivas revoluções que aconteceram e definiram a identidade de um Rio Grande em formação. Nejar afirma que os poemas da primeira parte foram inspirados por lembranças do seu avô, como a ligação do gaúcho com o vento e o constante diálogo com o horizonte.
A segunda parte é República da Infância, que aborda a Revolução Farroupilha, a luta dos Farrapos, os costumes dos gaúchos do interior, a relação com a natureza e a bravura do povo gaúcho, que se define por suas lutas pela independência, mas não deixa de fazer parte do Brasil.
- O livro reúne ingredientes fundamentais do gaúcho, sobretudo o cavalo. Com esse livro, me sinto mais gaúcho do que nunca. O pampa não deixa a gente, e a gente não deixa o pampa - afirma Carlos Nejar, que não mora no Rio Grande do Sul (hoje vive em Guarapari, no Espírito Santo), mas nem por isso se considera menos gaúcho.
Já na Sala Leste do Santander Cultural, o escritor Jean Michel Lartigue e os poetas Pedro Gonzaga e Diego Grando conversam sobre a linguagem das grandes metrópoles. É possível, em pleno século 21, não escrever sobre a cidade?
Para Pedro Gonzaga, quem escreve uma história sobre o campo geralmente lança mão de recursos históricos. Para os autores, a literatura feita nas grandes metrópoles hoje, assim como as próprias cidades, tem algo de universal. Histórias escritas em Nova York tanto poderiam se passar em São Paulo quanto em Paris ou Porto Alegre.
- Estamos vivendo em escala global, num nível de uniformidade em que as cidades parecem cada vez mais iguais. Poderia a literatura preservar algo de peculiar das cidades? - questiona Pedro Gonzaga.
Para o escritor francês radicado no Brasil Jean Michel Lartigue, não é possível escrever sobre a cidade como um todo.
- No meu livro, São Paulo é um pano de fundo para histórias que poderiam se passar em qualquer cidade. As metrópoles criam a neurose que é tema dos meus contos: a corrida pelo dinheiro, a ambição, o fato de querer ser melhor do que os outros. Isso acontece em qualquer metrópole. Essas histórias não poderiam acontecer se não fosse numa grande cidade. As pessoas são moldadas pelo fato de viver em uma grande cidade - diz Jean Michel.
Para o francês, não é possível fazer um retrato de uma cidade, mas sim milhares de retratos:
- As pequenas experiências do dia-a-dia criam a leitura que a gente faz da cidade. Todo o dia captamos gestos, pulsações, sentimentos, coisas engraçadas, sutilezas e o cenário da cidade é bárbaro para isso.