De tão presente na Praça da Alfândega, a trilogia Cinquenta Tons de Cinza vem inspirando um curioso movimento de resistência entre os livreiros: há os que preferem não expor, ou nem mesmo comercializar, os títulos de E.L. James.Tentam, assim, atrair com outras ofertas a parcela de leitores que não se interessam pelo romance erótico popularizado como "pornô para mamães".
Cinquenta Tons de Cinza e Cinquenta Tons Mais Escuros, da Intrínseca, venderam 900 mil exemplares em menos de três meses. Cinquenta Tons de Liberdade tem lançamento previsto para o dia 8, em plena Feira do Livro, com a estonteante tiragem de 600 mil cópias. Numa pesquisa informal, no corredor central, Zero Hora localizou, entre os 30 estandes observados, 15 exibindo os volumes iniciais em áreas de bastante visibilidade. Cinco mantinham os livros nas prateleiras do fundo, enquanto em outras 10 não era possível localizá-los sem o auxílio dos vendedores.
A Terceiro Mundo, com 4 mil títulos, faz um rodízio constante sobre o balcão, onde E.L. James não tem lugar cativo. Rui Diniz, da Palmarinca, amparado em uma tarimba de 44 anos de feira, mantém os best-sellers da autora inglesa num canto:
-Todo mundo tem. Tenho que fazer diferente -explica Rui.
Entre a maioria que aproveita o embalo do sucesso, há pelo menos dois casos notáveis. Em quatro dias, Elsa da Silva, gerente da Espaço Cultural, afirma ter vendido uma centena de exemplares dos dois livros.
- Tem senhorinhas que chegam e querem saber do que se trata. Digo que é um romance apimentado. Se perguntam mais, digo para darem uma olhadinha - diverte-se Elsa.
Helena Demoliner, da Colossal, calcula ter comercializado mais de uma centena de cada. O estoque, reposto todos os dias, contava com 150 exemplares na tarde de ontem. A gerente observa um interesse predominantemente feminino pela obra, mas vem suspeitando de uma justificava que se multiplica entre os homens:
- Eles dizem que estão levando para a esposa ou para a namorada.
De acordo com os livreiros, Melissa Dias, 29 anos, é a leitora padrão: jovem que chega incentivada por amigos ou reportagens destacando o enredo de tom sadomasoquista. A atendente de telemarketing abre em uma página qualquer de Cinquenta Tons de Cinza, comprado a R$ 32.
- É bem erótico - atesta ao concluir o trecho em que o protagonista começa a beijar a companheira no pescoço, provocando uma reação acalorada, "por todo o caminho, até lá embaixo". - E bem atrativo - completa, rindo