As eleições municipais deste ano no Rio Grande do Sul projetam o horizonte de dois dos principais antagonistas da política gaúcha, cujo enfrentamento nas urnas deve ocorrer em 2026. Afilhados respectivamente do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de seu antecessor Jair Bolsonaro, o ministro Paulo Pimenta (PT) e o deputado federal Luciano Zucco (PL) buscam transformar vitórias de aliados em trampolim para disputar o governo do Estado ou uma cadeira no Senado.
De volta a Brasília após quatro meses atuando em território gaúcho como ministro da Reconstrução do Rio Grande do Sul, Pimenta se estabeleceu como um dos petistas mais próximos de Lula. Defensor incondicional do presidente nos 580 dias em que o líder petista esteve na prisão, Pimenta é considerado o maior ativo eleitoral do partido no Estado. Terceiro mais votado entre os deputados eleitos em 2022, alimenta agora ambições maiores.
Para tanto, o ministro trabalha para eleger o maior número possível de aliados, buscando exibição de vigor político e eleitoral. A expectativa é levar o partido ao segundo turno em Porto Alegre, Caxias do Sul, Pelotas, Canoas e Santa Maria, os cinco municípios onde há possibilidade de segundo turno. À exceção de Canoas, onde o PT indicou o vice, nos demais a legenda tem a cabeça da chapa.
A última vez que o PT chegou ao segundo turno nas cinco principais cidades foi em 2008. Desde então, o partido passou a perder terreno nas eleições municipais, com retração contínua. Se em 2012 foram eleitos 72 prefeitos petistas, esse número caiu quase à metade em 2016, com 38 eleitos, e diminuiu ainda mais em 2020, com 23 vitórias - uma delas São Leopoldo, a única no grupo dos 50 maiores municípios gaúchos. A expectativa agora é chegar a 40 prefeituras.
Na direção nacional do PT, a eleição no Rio Grande do Sul é vista como uma retomada de força do partido, sobretudo diante da situação nos Estados vizinhos. Em Santa Catarina, as projeções internas apontam que o PT não deve passar de fase nas três cidades onde há possibilidade de segundo turno. No Paraná, a expectativa é chegar somente em duas das sete cidades com segundo turno, e em ambas o cabeça de chapa não é do partido.
Ao recuperar a tração eleitoral do PT gaúcho, do qual era presidente até virar ministro, Pimenta buscará da direção nacional chancela de reivindicar a candidatura a governador em 2026. Para aferir a preferência do eleitorado, ele encomendou pesquisa recentemente. Nos bastidores, interlocutores comentam que talvez ele acabe concorrendo a uma das duas vagas ao Senado, deixando o Palácio Piratini para 2030. Dessa forma, não atropelaria as pretensões de Edegar Pretto, que espera concorrer ao governo novamente, e não correria o risco de ficar sem mandato em caso de eventual derrota.
Se Pimenta desponta na esquerda, Zucco ganha visibilidade à frente da direita gaúcha. O ex-militar alcançou essa posição após ter sido o campeão de votos nas eleições para a Câmara em 2022, pela intimidade com Bolsonaro e pela capacidade retórica na liderança dos aliados.
Enquanto muitos se distanciaram, Zucco estreitou laços com o Bolsonaro desde a derrota na eleição presidencial. Ao mesmo tempo, afastou-se do senador Hamilton Mourão (Republicanos), que incentivou seu ingresso na política, mas passou a ser tratado como traidor nas hostes bolsonaristas após o discurso em rede nacional no qual criticou o então presidente no último dia de mandato.
A convivência quase diária entre Zucco e Bolsonaro faz do gaúcho o anfitrião das incursões do ex-presidente no Rio Grande do Sul. Na prática, o deputado é hoje o despachante que encaminha encontros de prefeitos, vereadores, candidatos e líderes locais para uma fotografia, um vídeo ou um mero aperto de mão do ex-presidente. Sem o aval de Zucco, há dificuldade de chegar perto de Bolsonaro nos palanques montados Estado afora.
Durante o último roteiro, no dia 12 em Pelotas, o locutor tratou Zucco como "o futuro governador do Rio Grande do Sul". O rompante provocou irritação em Zucco, que reclamou na hora, e em Bolsonaro, que avisou publicamente que o seu candidato para o governo gaúcho só será escolhido depois das eleições municipais.
Hoje, Zucco estaria próximo de concorrer ao Senado, para colaborar na estratégia bolsonarista de dominar a Casa em 2026, e fazer andar os pedidos de impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
A estratégia esbarra nas pretensões de outros expoentes do campo político, como Marcel van Hattem (Novo) e Giovani Cherini (PL), que já demonstraram interesse em disputar o Senado em 2026.
Por outro lado, abre caminho para o retorno de Onyx Lorenzoni, que foi derrotado por Eduardo Leite em 2022 e almeja concorrer novamente ao Piratini. Morando em Portugal, o ex-ministro retornou ao Estado e visitou 46 municípios nas últimas duas semanas, pedindo votos para aliados.
Em Caxias do Sul, Gravataí e Novo Hamburgo, Onyx apoia postulantes de outros partidos, em detrimento de candidatos do PL. A postura gerou mal-estar e até pedidos de expulsão. Nos bastidores, vicejam comentários de que Onyx estaria costurando migração para o União Brasil, onde teria mais espaço para concorrer a governador.
O ex-ministro refuta a possibilidade e diz que não há planos de deixar o PL. Seu objetivo é ajudar na eleição em cem municípios e retornar a Portugal, voltando ao Brasil em junho de 2025 para preparar a candidatura no ano seguinte.