Ao deflagrar a terceira fase de uma operação que apura a existência de uma organização criminosa na prefeitura de Bagé, a Polícia Federal (PF) prendeu em flagrante na terça-feira (13) o filho do prefeito Divaldo Lara (PRD).
Rafael Lara, 26 anos, foi preso após os agentes encontrarem na casa dele sete computadores pertencentes à prefeitura.
Rafael foi um dos 13 alvos dos 34 mandados de busca, apreensão e sequestro de bens cumpridos por 72 agentes da PF em Bagé, Porto Alegre e Florianópolis. Os policiais cumpriam determinação do Tribunal Regional Eleitoral na investigação de um suposto esquema de caixa 2 e rachadinha. Além de Rafael foram alvos o próprio Divaldo, a mulher dele, Priscila Lara, o presidente da Câmara de Vereadores de Bagé, Rodrigo Halfen Ferraz, e o vereador Michelon Garcia Apoitia.
Na casa de Rafael, os policiais encontraram quatro notebooks e três CPUs que seriam patrimônio do município. Ele foi preso no ato por receptação, já que no entendimento dos agentes por não ser servidor público ele não poderia estar de posse dos equipamentos. Conduzido até a delegacia, ele foi solto horas depois após pagamento de fiança no valor de R$ 20 mil.
Durante a operação, foram apreendidos ainda diversos bens do prefeito. Um caminhão precisou ser levado até a residência para o transporte de placas de energia solar, equipamentos de uma academia de musculação, fogão, geladeira e televisão. Os agentes também apreenderam uma escopeta calibre 12, uma pistola 9mm, munições, joias, vinhos e espumantes, além de US$ 1.454 e mil euros.
Um guincho também foi providenciado para levar um trator e um carro. Até mesmo os 19 cães da raça american staffordshire terrier foram apreendidos, embora tenham ficado com o prefeito na condição de fiel depositário. Em Porto Alegre, foram cumpridos dois mandados com apreensão de uma motocicleta e um carro, cada um avaliado em cerca de R$ 100 mil, bem como R$ 5 mil em dinheiro.
Batizada de Coactum III, a operação apura ainda indícios de peculato e lavagem de capitais. A investigação começou em 2017, a partir de supostas irregularidades na prestação de contas eleitorais. Em maio, na segunda etapa da Coactum — nome que caracteriza o caráter compulsório da entrega de salário — foram presos dois servidores suspeitos de serem os responsáveis por recolher parte dos vencimentos dos colegas. De acordo com a apuração, mais de R$ 10 milhões teriam sido desviados nos últimos oito anos.
Procurados, os advogados do prefeito, Cristiano Gessinger Paul e José Henrique Salim Schmidt, não quiseram se manifestar. Eles afirmam que ainda estão buscando acesso ao processo que irão responder nos autos.
Em entrevista coletiva concedida na manhã desta quarta-feira (14), Divaldo atribuiu a investida policial a uma conspiração política contra ele:
— Esse movimento foi construído lá por cima, com clara finalidade política e eleitoral. O crime de que me acusam, a suposta rachadinha, não tem denunciante. Não tem uma pessoa que me acuse.
Sobre a prisão do filho, Divaldo disse que os computadores não pertencem à prefeitura e que vai representar contra a autoridade policial por suposta ilegalidade.
— Jamais o Rafael faria qualquer coisa irregular, qualquer coisa ilegal. É para atacar a família, uma prisão arbitrária — afirmou Divaldo.