A proximidade do período das convenções partidárias, a partir de 20 de julho, acelera as articulações para a disputa pela prefeitura de Porto Alegre. Com o calendário mais estreito, se intensifica a movimentação em busca de apoio e até mesmo de neutralização de candidaturas, com quase todos os partidos tentando fugir dos extremos ideológicos e migrando para o centro.
No Paço Municipal, o grupo do prefeito Sebastião Melo (MDB) divide tarefas. Enquanto parte trabalha na coleta de material para exibir as realizações da atual gestão, uma ala de emedebistas históricos demonstra preocupação com a possibilidade de o ex-prefeito Nelson Marchezan (PSDB) concorrer. Na semana passada, um jantar na casa do deputado estadual Vilmar Zanchin debateu o assunto com o vice-governador Gabriel Souza.
Temendo uma eventual migração de votos para uma candidatura tucana, Zanchin, Melo, José Fogaça, Pedro Simon e Odacir Klein, além de José Paulo Cairoli, pediram a Gabriel que conversasse com o governador Eduardo Leite, na tentativa de demovê-lo da ideia de lançar Marchezan. Surpreendido com o teor da conversa, Gabriel respondeu que não teria como atender ao apelo, uma vez que Melo fez campanha para Onyx Lorenzoni (PL) no segundo turno da disputa pelo Piratini em 2022.
— Vou ajudar do primeiro ao último dia da campanha, no que for preciso. Fazendo plano de governo, arrecadando recursos, mobilizando a militância ou pedindo votos em palanque, mas isso não posso pedir ao Eduardo — argumentou.
A movimentação evidencia o receio no grupo de Melo com o surgimento de uma candidatura de centro, capaz de galvanizar os votos dos eleitores refratários a Maria do Rosário (PT) mas também descontentes com a atual administração. Em busca de se tornar essa alternativa, Juliana Brizola (PDT) tenta atrair os tucanos e o União Brasil.
Para convencer o deputado estadual Thiago Duarte (UB) a ser seu vice, Juliana ponderou que está melhor posicionada nas pesquisas e que terá dinheiro para financiar a campanha. Thiago buscou apoio da direção nacional do partido, semana passada em Brasília, mas ouviu do presidente Antonio Rueda que a legenda irá canalizar os recursos para 12 candidaturas prioritárias nas capitais.
— Temos 14 candidatos, seis com chance de vencer no primeiro turno e seis com chance de chegar. Vou botar dinheiro nelas. Depois, tem outras duas com chances mínimas — disse Rueda, citando as pretensões de Duarte em Porto Alegre e Rodrigo Amorim no Rio.
Apesar da escassez de verbas, Duarte está decidido a manter a candidatura e tem apoio da legenda no Estado. Ciente da dificuldade de firmar o apoio, Juliana se reuniu na segunda-feira com o presidente municipal do PSDB, vereador Moisés Barboza. O diálogo foi considerado promissor e houve promessa de novo encontro.
Todavia, Barboza não tem autonomia da direção estadual para negociar uma aliança. Embora a presidente estadual, Paula Mascarenhas, já tenha conversado pessoalmente com Juliana, ela e Leite estão empenhados em convencer Marchezan a concorrer. O governador recebeu o ex-prefeito domingo no Palácio Piratini. Marchezan se mostrou mais aberto, mas ainda condiciona a candidatura à garantia de uma coligação competitiva e recursos para a campanha.
Em nota divulgada no final de semana, a cúpula nacional do PSDB fez um apelo para que Marchezan entre na disputa, embora nos bastidores tenha reconhecido que há escassez de dinheiro. Para fortalecer o palanque, o partido flerta com o Republicanos. Paula já conversou com Carlos Gomes, presidente da legenda e secretário de Leite. Não houve avanço, mas na segunda-feira Marchezan se reuniu com a vereadora Mari Pimentel.
Durante um café que se estendeu por cerca de uma hora e meia, ele sondou a receptividade dos partidos da base de Melo a uma eventual candidatura. Ouviu que há receio dos vereadores com eventual impacto da enchente na imagem de Melo, mas que também há resistência ao seu nome. Primeiro prefeito a ficar fora do segundo turno na disputa pela reeleição, o tucano foi orientado a romper o isolamento fazendo um discurso acolhedor, diferente da relação turbulenta que manteve com a Câmara durante seu mandato.
É em busca desse mesmo centro político e tentando diminuir a rejeição antipetista que Maria do Rosário conduz a pré-campanha. A candidata evita ataques pessoais a Melo, centrando as críticas ao “modelo de gestão”. Nesse caminho, o PT tem atraído simpatia do PSB, que vê na aliança condições de ampliar o número de vereadores. Também ganha espaço o ex-prefeito José Fortunati (PV), que tem assento no comando da campanha e discursa em todas as plenárias que o PT está realizando com setores da sociedade. Na próxima sexta-feira, Rosário instala um conselho de ex-prefeitos e anuncia a ex-deputada Manuela D’Ávila (PCdoB) como coordenadora de conselho político.