O ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), derrubou nesta terça-feira (21) todos os processos e investigações contra o empresário Marcelo Odebrecht na Operação Lava-Jato.
A decisão afirma que houve "conluio processual" entre o ex-juiz Sergio Moro e a força-tarefa de Curitiba e que os direitos do empresário foram violados nas investigações e ações penais.
"O que poderia e deveria ter sido feito na forma da lei para combater a corrupção foi realizado de maneira clandestina e ilegal", justificou o ministro.
Ao declarar a "nulidade absoluta de todos os atos processuais" contra Marcelo Odebrecht na operação, o ministro determinou que os inquéritos e processos envolvendo o empresário sejam trancados.
"Nota-se, portanto, um padrão de conduta de determinados procuradores integrantes da força-tarefa da Lava Jato, bem como de certos magistrados que ignoraram o devido processo legal, o contraditório, a ampla defesa e a própria institucionalidade para garantir seus objetivos — pessoais e políticos —, o que não se pode admitir em um Estado Democrático de Direito", diz um trecho da decisão.
Réu confesso, Marcelo Odebrecht fechou acordo de colaboração com a força-tarefa de Curitiba em 2014 enquanto presidente da construtora, e admitiu propinas a centenas de agentes públicos e políticos de diferentes partidos.
Os advogados de Odebrecht usaram mensagens hackeadas da força-tarefa, obtidas na Operação Spoofing, que prendeu os responsáveis pela invasão ao Telegram dos procuradores, para recorrer ao STF, alegando que o cliente foi obrigado a assinar a delação.
Em sua decisão, Toffoli afirma que as conversas revelam que Sergio Moro e os procuradores combinaram estratégias contra Marcelo Odebrecht.
"A prisão do requerente, a ameaça dirigida a seus familiares, a necessidade de desistência do direito de defesa como condição para obter a liberdade, a pressão retratada pelo advogado que assistiu o requerente naquela época e que o assiste atualmente estão fartamente demonstradas. Fica clara a mistura da função de acusação com a de julgar, corroendo-se as bases do processo penal democrático."
A decisão de Toffoli não afeta o acordo de delação, que continua válido, segundo o próprio ministro.
Marcelo Odebrecht terminou de cumprir a pena da colaboração com a Lava-Jato, por corrupção, associação criminosa e lavagem de dinheiro, em 2023.