Em seu primeiro compromisso público na passagem pelo Estado nesta sexta-feira (15), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometeu que o governo federal vai renegociar as dívidas do Rio Grande do Sul e de outras unidades federativas.
Em discurso no auditório da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), em Porto Alegre, Lula lembrou que o tema tem sido levado ao governo federal por diferentes governadores nas últimas décadas, citando Jair Soares (1983-1987), Pedro Simon (1987-1990), Olívio Dutra (1999-2003) e Tarso Genro (2011-2015).
Antes do discurso de Lula, o governador Eduardo Leite havia pedido ao presidente que desse aval à negociação que está em curso junto ao Ministério da Economia.
— Se todo mundo (ex-governadores) fala a mesma coisa, alguma coisa está errada. Então eu queria dizer pra você governador, não será nenhum favor, será obrigação do governo federal sentar e tentar encontrar uma solução (para a dívida) — afirmou Lula.
Ao fim da fala do presidente, o governador gaúcho comentou a sinalização do governo federal para reabertura do diálogo sobre o tema.
— Confirma aquilo que a gente tem obtido de atenção por parte do ministro (da Fazenda, Fernando) Haddad, a compreensão de que esse assunto precisa ser resolvido e não postergado. Saindo do aeroporto pra cá, conversei com o presidente Lula de que, ao longo do tempo, a dívida acabou tendo soluções paliativas (...), mas tem que ter uma solução arrojada, ousada, e o presidente parece ter essa compreensão. Isso nos deixa muito boa expectativa para reunião que a gente deve ter com o ministro Haddad, possivelmente no próximo dia 26 — disse Leite.
Em entrevista coletiva concedida após o ato, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, disse que o plano de renegociação da dívida dos Estados já está pronto e será apresentado nos próximos dias a Leite e aos demais governadores.
Antes do presidente, além de Rui Costa, os ministros Nísia Trindade (Saúde), Camilo Santana (Educação), Waldez Góes (Integração Nacional), Jader Filho (Cidades) e Paulo Pimenta (Comunicação Social) apresentaram balanços de investimentos e novos repasses já previstos para o RS.
Na sequência, o governador Eduardo Leite se pronunciou, dizendo que, apesar das divergências, torce a favor de Lula e do governo
— Não precisamos pensar igual, precisamos pensar no Brasil—salientou Leite, integrante de um partido (PSDB) que faz oposição ao governo federal.
O último a falar antes de Lula foi o vice-presidente Geraldo Alckmin, que celebrou o crescimento nas exportações no ano passado e relacionou as ações do governo para fortalecer a indústria.
Lula discursou ao final do ato e defendeu iniciativas de sua gestão, mas não fez novos anúncios de repasses ao Estado.
Depois de os ministros apresentarem números sobre o que foi aplicado e o que está prometido, o presidente exaltou algumas iniciativas, como a abertura de novos mercados para produtos agrícolas no Exterior e a criação do programa Pé de Meia, que pagará uma bolsa a estudantes do Ensino Médio:
— Prefiro dar uma bolsa para um menino de 15 ou 16 anos estudar do que gastar muito mais dinheiro para tirar do crime e do tráfico de drogas.
Em seu discurso, que durou 38 minutos, Lula também afirmou que existe risco à democracia no mundo, em razão do avanço da extrema-direita. Diferentemente do que tem feito em outros eventos públicos, citou o antecessor, Jair Bolsonaro, e disse que ele não reconhece a derrota na eleição de 2022:
— Outro dia, ele falou: "Não sei como perdi". Ele não sabe como perdeu porque gastou quase R$ 300 bilhões e achava que não ia perder. E perdeu.
Após o pronunciamento, Lula seguiu para almoço com Leite, outras autoridades, integrantes da direção da Fiergs e companheiros de partido, como o ex-governador Tarso Genro.
Esta é a segunda viagem de Lula ao Rio Grande do Sul durante o terceiro mandato. Após sair de Porto Alegre, ele foi a Lajeado, no Vale do Taquari, para anunciar a destinação de recursos para municípios atingidos por enchentes no ano passado.