O advogado Cezar Bitencourt, que assumiu esta semana a defesa do tenente-coronel Mauro Cid, afirmou nesta quinta-feira que o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro deve confessar que vendeu joias recebidas pelo ex-presidente em viagens oficiais. Cid também deve afirmar que repassou o dinheiro obtido com as operações a Bolsonaro. A declaração foi feita inicialmente à revista Veja e depois para vários outros veículos.
Conforme Bitencourt, Cid deve afirmar que cumpria ordens diretas do ex-presidente e que teria partido dele a determinação para que as joias fossem vendidas. O militar deve relatar que participou da venda das joias nos Estados Unidos e depois entregou o valor em espécie ao ex-presidente.
— A questão é que isso pode ser caracterizado também como contrabando. Tem a internalização do dinheiro e crime contra o sistema financeiro. Mas o dinheiro era do Bolsonaro — disse Bitencourt à Veja.
As peças recebidas pelo então presidente deveriam ser incorporadas ao acervo da União, mas foram omitidas dos órgãos públicos, incluídas no estoque pessoal do ex-chefe do Executivo e negociadas, segundo a PF.
Preso desde o início de maio por suspeita de adulteração em cartões de vacinação, Cid se manteve em silêncio até agora. Conversas obtidas pelos investigadores mostram que ele tinha dúvidas se as joias poderiam ser vendidas.
Estratégia
O advogado já havia sinalizado uma mudança na estratégia de defesa de Cid durante uma entrevista à GloboNews na quarta-feira (16). Na ocasião, ele disse que ajudantes militares como Cid cumprem “ordens ilegais e injustas” dos chefes por causa da “obediência hierárquica” e que considera o cliente um “grande injustiçado”.
— Ele é um militar, mas é um assesor. Assessor cumpre ordens do chefe. O assessor militar com muito mais razão. (...) Então, alguém mandou. Alguém determinou. Ele é só um assessor — afirmou o criminalista.
O contrato entre Cid e Bitencourt foi fechado na noite de terça-feira. A negociação ocorreu após o criminalista Bernardo Fenelon renunciar à defesa do ex-ajudante de ordens. Essa foi a segunda a troca de advogado desde que o tenente-coronel entrou na mira da PF.