Sem projetos polêmicos para submeter à Assembleia Legislativa no restante do segundo mandato, o governador Eduardo Leite vai priorizar a entrega de obras e a melhoria da gestão para catapultar uma candidatura presidencial em 2026. Após aprovar as reformas da previdência e administrativa no primeiro governo, e a reformulação do IPE Saúde, em junho, Leite pretende lançar um novo programa de investimentos e aumentar sua visibilidade nacional.
Se no primeiro mandato o objetivo era governar para dentro, equalizando as finanças públicas por meio de reformas estruturantes e um rigoroso ajuste fiscal, a ordem agora é governar para fora, exibindo as realizações.
Leite quer consolidar a imagem de um gestor moderno e reformista, afeito a privatizações e parcerias com a iniciativa privada como forma de garantir avanços sociais. Assim, espera se firmar como alternativa moderada à polarização entre o petismo e o bolsonarismo na disputa pela Presidência.
Para tornar a candidatura competitiva, o governador busca acelerar o ritmo do governo, e o primeiro reflexo foi um aumento no tom da cobrança sobre o secretariado. São frequentes os relatos de que as audiências com Leite se tornaram mais longas e exigentes, com o tucano discutindo minúcias de cada ação dos subordinados.
Por enquanto, as queixas mais fortes recaem sobre as titulares das secretarias da Educação, Raquel Teixeira, e de Obras, Izabel Matte. Durante a campanha eleitoral do ano passado, Leite havia colocado a educação como prioridade do segundo mandato, com melhoria dos índices de aprendizado e qualificação da estrutura escolar.
Logo em janeiro, ele reestruturou as duas pastas. Agora, quer agilidade na execução dos projetos — sobretudo após o anúncio, em junho, de aporte de R$ 101,4 milhões em obras de 254 escolas até o final do ano. O valor é quase o dobro dos R$ 59,2 milhões que foram investidos na reforma de colégios estaduais em todo o mandato anterior.
As duas pastas também estarão no foco do novo pacote de investimentos previsto para ser lançado neste segundo semestre. Com R$ 4,1 bilhões em caixa obtidos na privatização da Corsan, Leite vai direcionar os recursos para três áreas prioritárias: estradas, segurança e educação.
— Os problemas de maior complexidade foram tratados na primeira parte da gestão. Fizemos a reforma previdenciária, que muitos Estados não fizeram, e a administrativa, que o governo federal quer fazer. O Rio Grande do Sul largou na frente. O desafio agora é identificar os gargalos e solucionar os problemas para atrair investimentos — diz o líder do governo na Assembleia, Frederico Antunes (PP).
No primeiro mandato de Leite, Antunes conduziu a aprovação de 242 projetos de autoria do Piratini, sem jamais sofrer derrotas em plenário. Para os próximos anos, sua missão será bem mais tranquila, já que não há propostas controversas na agenda legislativa do governo.
Essa mudança na pauta se reflete na própria produção da Assembleia. Enquanto no primeiro semestre de 2019 os deputados participaram de 61 votações, apreciando 26 projetos do Executivo, no mesmo período de 2023 a performance caiu à metade, com 35 votações, sendo 11 de iniciativas do governo.
Sem necessidade de se envolver com o varejo da política parlamentar, negociando o texto de cada projeto, Leite fica mais à vontade para circular pelo Estado e pelas principais capitais do país. No Interior, tem privilegiado inaugurações, quase sempre às quintas-feiras. No centro do país, intensificou as entrevistas a grandes veículos de imprensa e as costuras internas no PSDB.
Há problemas nos dois fronts. Externamente, uma pesquisa nacional contratada pelo partido revelou que Leite é praticamente desconhecido da imensa maioria da população brasileira. O resultado abre margem para um crescimento, mas também mostra a necessidade de se ausentar cada vez mais do Rio Grande do Sul.
Internamente, o PSDB enfrenta uma crise de identidade que fez a sigla minguar nas urnas — foram 54 deputados eleitos em 2014, 29 em 2018 e 14 em 2022. Há debandada de senadores, deputados, prefeitos e vereadores.
Nos bastidores, fermenta uma insatisfação com a ausência do gaúcho no debate público, sem um posicionamento que o coloque como real alternativa presidencial. A queixa é que Leite precisa ocupar um espaço na oposição que hoje vem sendo compartilhado pelos governadores de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo).
— Eduardo vai saber o momento certo de se colocar. Tarcísio e Zema são representantes do bolsonarismo e 57% da população busca uma alternativa de centro. O importante é não queimar a largada, o movimento tem de ser feito com inteligência, pois se percebe que o eleitor não quer mais radicalismo — pondera o deputado federal Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG).
No Piratini, tal situação envolve uma discussão sobre eventual antecipação de sua saída do governo. Para concorrer à Presidência, Leite precisa deixar o cargo em abril de 2026. À boca pequena, porém, se cogita uma renúncia em dezembro de 2025. A medida daria mais tempo para Leite preparar a candidatura e ainda permitiria ao vice-governador Gabriel Souza (PMDB) mais tempo no comando do Estado, reforçando o próprio nome à sucessão.