O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) confirmou, pela primeira vez, que recebeu R$ 17,1 milhões em doações via Pix, como consta em relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) enviado à CPMI de 8 de Janeiro. Até então, assessores e filhos de Bolsonaro vinham apenas reclamando da divulgação dos dados. O ex-presidente avisou que os recursos servirão para pagar suas contas e ainda sobrará para comer "pastel com caldo de cana" com a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.
— Obrigado a todos aqueles que colaboraram comigo no Pix há poucas semanas. Dá para pagar todas as minhas contas e ainda sobra dinheiro aqui para a gente tomar um caldo de cana e comer um pastel com a dona Michelle — disse o ex-presidente durante um encontro do PL Mulher em Santa Catarina neste sábado (29).
Bolsonaro recebeu R$ 17,1 milhões em suas contas por meio de transferências bancárias realizadas por Pix entre os dias 1º de janeiro e 4 de julho deste ano. O valor representa oito vezes o que o ex-presidente declarou em bens ao TSE. O montante ainda corresponde quase à totalidade do que circulou nas contas de Bolsonaro em 2023: R$ 18.498.532.
O relatório do Coaf mostrou que 18 pessoas — advogados, empresários, militares, agricultores, pecuaristas e estudantes — pagaram entre R$ 5 mil e R$ 20 mil ao ex-presidente. Além delas, há três empresas. Uma delas fez 62 transferências que totalizam R$ 9,6 mil.
Mesmo com os milhões recebidos via Pix, o ex-presidente não pagou suas multas com o Estado de São Paulo. O registro de débitos inscritos na dívida ativa paulista aponta que o ex-chefe do Executivo brasileiro tem sete multas na Secretaria de Saúde do Estado, que somam uma dívida de mais de R$ 1 milhão.
Em junho, deputados e influenciadores bolsonaristas chegaram a fazer uma campanha pedindo doações por Pix ao ex-presidente, alegando que ele seria vítima de "assédio judicial" e que precisa de ajuda para pagar o que chamaram de "diversas multas em processos absurdos". A assessoria de Bolsonaro confirmou o número do Pix e ele não desautorizou os depósitos. No fim de junho, o ex-presidente disse que a "vaquinha" arrecadou o suficiente para pagar multas, sem revelar valor.
Em comunicado à imprensa, a defesa de Bolsonaro afirmou que o recebimento é lícito. "Para que não se levantem suspeitas levianas e infundadas sobre a origem dos valores divulgados, a defesa informa que estes são provenientes de milhares de doações efetuadas via Pix por seus apoiadores, tendo, portanto, origem absolutamente lícita", diz a nota.
O ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, tenente-coronel da ativa Mauro Cesar Barbosa Cid, também apareceu em relatório. De acordo com o Coaf, Cid movimentou R$ 3,7 milhões entre julho de 2022 e maio de 2023. Militar, que está preso, é investigado pela Polícia Federal por participar supostas fraudes em cartões de vacina e ter envolvimento em atividades golpistas.
O relatório mostrou ainda que Cid enviou R$ 368 mil para os EUA em remessa "atípica" em janeiro de 2023, quando Bolsonaro já estava no país. O Coaf afirma que a "movimentação elevada" pode indicar "tentativa de burla fiscal e/ou ocultação de patrimônio".