Após a publicação de informações bancárias do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que revelaram o recebimento de R$ 17,1 milhões por meio de transferências via Pix, a defesa do político informou que a origem do dinheiro é "absolutamente lícita". Além disso, seus advogados condenaram a divulgação das informações, o que chamaram de "vazamento", e alegaram que ela configura uma "criminosa violação de sigilo bancário".
"Para que não se levantem suspeitas levianas e infundadas sobre a origem dos valores divulgados, a defesa informa que estes são provenientes de milhares de doações efetuadas via Pix por seus apoiadores, tendo, portanto, origem absolutamente lícita", diz a defesa em comunicado para a imprensa.
A nota ainda informou que, nos próximos dias, a equipe adotará medidas legais cabíveis para investigar a autoria da divulgação dessas informações.
O ex-secretário de Comunicação Social (Secom) e advogado de Bolsonaro, Fabio Wajngarten, classificou como inadmissível o "vazamento" das informações bancárias do ex-presidente. No Twitter, ele afirmou que o responsável pela divulgação dos dados será "criminalizado". Wajngarten é um dos autores da nota enviada à imprensa.
De acordo com relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), o ex-presidente recebeu a quantia entre os dias entre os dias 1º de janeiro e 4 de julho deste ano. O documento aponta também que esse valor foi movimentado através de 769 mil transações feitas para a conta de Bolsonaro.
O montante corresponde quase à totalidade dos R$ 18,5 milhões que circularam nas contas de Bolsonaro neste ano. A cifra milionária seria resultado de uma vaquinha feita por apoiadores para ajudá-lo a pagar multas. Porém, ela é 17 vezes maior do que o valor das infrações e equivale a oito vezes ao patrimônio de R$ 2,3 milhões declarado por Bolsonaro à Justiça Eleitoral na última eleição.
Os registros bancários feitos pelo Coaf apontam que parte dos recursos arrecadados teriam sido convertidos em aplicações financeiras.
O ex-presidente tem evitado falar publicamente sobre o valor arrecadado na campanha. No dia 26 de junho, ele disse apenas que já havia levantado o suficiente para pagar suas condenações processuais.
— A massa contribuiu com valores entre R$ 2 e R$ 22. Foi voluntário — disse Bolsonaro, na época, prometendo abrir os detalhes "mais para frente".
A divulgação do relatório do Coaf tem movimentado a base de apoio do ex-presidente nas redes sociais. Entre os críticos do "vazamento", estão o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e o vereador do Rio Carlos Bolsonaro (PL), filhos do ex-chefe do Executivo. Eles classificaram a publicação dos dados do documento como "assassinato de reputação".
Ajudante de ordens Mauro Cid
O ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, tenente-coronel da ativa Mauro Cesar Barbosa Cid, também apareceu em relatório do Coaf. O órgão indica que ele recebeu depósitos de R$ 1,4 milhão em seis meses, com movimentações consideradas "atípicas". O levantamento parte da análise da movimentação bancária de Cid entre julho de 2022 e maio deste ano.
O Coaf destrinchou a vida financeira de Cid nos últimos 10 meses e apontou quatro nomes que chamaram a atenção dos servidores — um militar preso pela Polícia Federal; um "caixeiro viajante", comerciante que faz negócios fora da cidade ou região em que mora; um ourives, que produz ou vende metais preciosos; e um empresário, tio da esposa do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.
Além disso, o relatório mostra que Cid enviou R$ 368 mil para os Estados Unidos em remessa "atípica" em janeiro de 2023, época em que Bolsonaro já estava no País. O órgão afirma que a "movimentação elevada" pode indicar "tentativa de burla fiscal e/ou ocultação de patrimônio".