O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chamou de "ameaça" as exigências feitas pela União Europeia (UE) para a finalização de um acordo com o Mercosul. Ao discursar na Cúpula para um Novo Pacto Financeiro Global, em Paris, Lula cobrou que os acordos comerciais passem a ser mais justos.
— Estou doido para fazer um acordo com a União Europeia, mas não é possível. A carta adicional que foi feita pela UE não permite que se faça um acordo. Nós vamos fazer a resposta e vamos mandar a resposta. Mas é preciso que a gente comece a discutir. Não é possível que tenhamos uma parceria estratégica e haja uma carta adicional fazendo ameaça a um parceiro estratégico. Como é que a gente vai resolver isso? — questionou, sentado ao lado do anfitrião do evento, o presidente francês Emmanuel Macron.
Após mais de 20 anos de negociações, a União Europeia e o Mercosul concluíram um acordo comercial em 2019, no entanto, os termos acabaram não sendo ratificados por preocupação dos governos europeus com a política ambiental brasileira, à época sob o governo de Jair Bolsonaro. Recentemente, a UE apresentou novas exigências em uma carta.
Segundo o governo brasileiro, essa side letter, no jargão diplomático, torna obrigatórias metas que o Brasil instituiu voluntariamente no Acordo de Paris — e ainda prevê punições em caso de descumprimento.
O texto está alinhado com a nova lei antidesmatamento adotada nos 27 países, que determina o banimento de produtos que tenham sido produzidos em área desmatada de 2021 em diante. Lula já havia dito que essa lei tornava o acordo desequilibrado. Ele reclamou diretamente à presidente do Conselho Europeu, Ursula von der Leyen.
O Brasil ainda articula com os sócios do Mercosul uma resposta conjunta, mas já rechaçou adotar a proposta da UE. Desde a apresentação dos termos europeus, o acordo emperrou e se acirraram as divergências de lado a lado.
UE como exemplo
Em seu discurso nesta sexta, o presidente brasileiro se referiu à construção da UE como patrimônio democrático da humanidade.
— Depois de duas guerras mundiais, vocês conseguirem construir a União Europeia, conseguirem fazer um Parlamento, conseguirem viver com divergência, mas discutindo as coisas democraticamente. É uma coisa que eu quero para a América do Sul — destacou.
Lula ressaltou ainda ter interesse em rever o funcionamento do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI).
— Queremos criar novos blocos para negociar com a UE. E aí, me desculpem Banco Mundial e FMI, precisamos rever o funcionamento. É preciso ter mais dinheiro, é preciso ter novas direções, mais gente participando da direção. Não podem ser os mesmos — declarou.