O Senado destravou votações e aprovou, na quarta-feira (17), a primeira leva de embaixadores indicados pelo presidente Lula Inácio Lula da Silva. Entre os nomes enviados por Lula e já aprovados no plenário do Senado está a primeira mulher a chefiar a embaixada do Brasil em Washington, Maria Luiza Ribeiro Viotti.
Com a aprovação do Senado, o governo Lula poderá efetivar as nomeações no Diário Oficial da União (DOU) e começar a substituir de fato os embaixadores remanescentes do governo Jair Bolsonaro.
A embaixada mais prestigiada do serviço exterior, em Washington, nunca foi liderada por uma mulher. Viotti já representou o país nas Nações Unidas, foi embaixadora em Berlim e chefe de gabinete do secretário-geral da ONU, António Guterres. Ela assumirá as funções antes exercidas pelo embaixador Nestor Forster, um dos expoentes do bolsonarismo na diplomacia. Ele já havia sido exonerado, em janeiro.
Viotti chegou a ser cotada como potencial ministra das Relações Exteriores durante a montagem do governo, mas Lula escolheu o chanceler Mauro Vieira. Desde então, o ministro sofre pressão no cargo para cumprir a promessa do governo de ampliar o protagonismo feminino.
Da primeira leva de nove diplomatas sabatinados na semana passada pela Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, só Viotti é mulher, o que foi motivo de mais cobranças.
Sobre a nomeação de Viotti, a senadora e relatora Mara Gabrilli (PSD-SP) afirmou que "a indicação representa um marco na história do Itamaraty".
— Isso fortalece os esforços para maior representatividade de gênero nos postos mais relevantes do serviço exterior brasileiro. Saúdo essa indicação e espero que ela abra caminho para o incremento na participação feminina nas embaixadas mais estratégicas para o interesse nacional — destacou.
A senadora Leila Barros (PDT-DF) reforçou a necessidade da indicação de mais mulheres para os postos de maior importância na diplomacia brasileira.
— Faço um apelo ao ministro Mauro Vieira a respeito da indicação das mulheres — enfatizou.
Mais detalhes sobre as nomeações
Os embaixadores indicados vão ocupar postos-chave e de prestígio no serviço exterior, parte deles do apelidado circuito Elizabeth Arden, os mais concorridos no Itamaraty.
Com a vitória de Lula no ano passado, o governo negociou mudanças nos planos internos do Itamaraty. O Palácio do Planalto vetou nomes, mas manteve parte dos ex-secretários da gestão passada em funções de relevo.
Na quarta-feira (17), os senadores aprovaram o nome do embaixador Paulino Franco de Carvalho Neto, ex-secretário de Assuntos Multilaterais Políticos, para chefiar a embaixada no Egito. O ex-chanceler Carlos França planejava prestigiar mais Paulino, que iria trabalhar em Paris, para onde Lula decidiu — e os senadores concordaram — nomear o embaixador Ricardo Neiva Tavares.
Neiva Tavares atuava até o ano passado como assessor-chefe de assuntos internacionais no Supremo Tribunal Federal (STF). Ele substituirá o embaixador Luis Fernando Serra, notabilizado na França por defender o governo Bolsonaro de forma aguerrida. No fim do ano passado, Serra voltou ao Brasil para o Escritório de Representação do Itamaraty no Rio de Janeiro e depois se aposentou.
O embaixador Sergio Danese sai de Lima, no Peru, para assumir como representante permanente do Brasil na ONU, em Nova York. O posto era de Ronaldo Costa Filho, durante o governo Bolsonaro.
O embaixador Julio Bitelli sai de Rabat, no Marrocos, e assumirá a embaixada em Buenos Aires, antes chefiada pelo embaixador José Reinaldo Salgado.
Ao Vaticano, Lula mandou o embaixador Everton Vargas, atualmente coordenador de Relações Internacionais do governo do Pará. O representante junto à Santa Sé era o embaixador Henrique Sardinha Pinto.
O ex-secretário de Oriente Médio, Europa e África, Kenneth da Nóbrega, ficou com a embaixada em Nova Délhi, antes chefiada por André Correa do Lago, atual secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente.
Ficaram pendentes as votações dos embaixadores Michel Arslanian Neto, ex-secretário das Américas, indicado para a OACI, e Christian Vargas, para Havana. O governo vai elevar o nível político da embaixada em Cuba. Atualmente, o Brasil estava sem embaixador designado no país. Vargas foi assessor internacional do Ministério de Minas e Energia e atualmente dirigia o Departamento de Integração Regional, no Ministério das Relações Exteriores.
Veja a lista dos embaixadores aprovados:
- Maria Luiza Ribeiro Viotti - Washington
- Sergio Danese - ONU
- Neiva Tavares - Paris
- Julio Bitelli - Buenos Aires
- Everton Vargas - Vaticano
- Kenneth da Nóbrega - Nova Délhi
- Paulino Franco de Carvalho Neto - Cairo