Os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e da Venezuela, Nicolás Maduro, se reuniram nesta segunda-feira (29) para tratar da relação bilateral e de oportunidades de cooperação entre os dois países. Em manifestação à imprensa no início da tarde, após reuniões ocorridas pela manhã, ambos trataram o encontro como marco de uma retomada de parceria.
Maduro não vinha ao Brasil havia oito anos, período em que o país que preside viveu grave crise econômica e em que o cargo dele esteve ameaçado pela oposição, que o acusa de fraudar eleições para se manter no poder. Um líder opositor, Juan Guaidó, chegou a se autodeclarar presidente em 2019, e foi assim reconhecido por algumas nações do mundo.
Lula, que falou primeiro no ato desta segunda, disse que o momento é histórico:
— Momento histórico que estamos vivendo agora. Depois de oito anos o presidente Maduro volta a visitar o Brasil, e nós recuperamos o direito de fazer política de relações internacionais com a seriedade que sempre fizemos, sobretudo com países que fazem fronteira com o Brasil. E a Venezuela sempre foi um parceiro excepcional.
O presidente brasileiro lembrou que se indispôs com outros líderes políticos para defender o mandato de Maduro.
— Briguei muito com companheiros social democratas europeus, governos, pessoas dos Estados Unidos. Eu achava a coisa mais absurda, para as pessoas que defendem a democracia, negarem que você é presidente da Venezuela, tendo sido eleito pelo povo, e que um cidadão que foi eleito deputado fosse reconhecido como presidente da Venezuela — relatou, referindo-se a Guaidó.
Lula ainda falou sobre o que chamou de "narrativa" construída ao longo dos anos sobre a Venezuela e acrescentou que ele e o assessor especial Celso Amorim buscam explicar ao mundo que a situação não é essa.
— Cabe à Venezuela mostrar a sua narrativa para que possa efetivamente fazer as pessoas mudarem de opinião. É preciso que você construa a sua narrativa. E a sua narrativa vai ser infinitamente melhor do que o que eles têm contado contra você. (...) Está nas suas mãos construir a sua narrativa e virar esse jogo, para que a gente possa vencer definitivamente, e a Venezuela voltar a ser um país soberano, onde somente seu povo, por meio de votação livre, diga quem é que vai governar esse país — afirmou.
Lula pregou a retomada da relação comercial entre os países, mas também a cooperação em outras áreas.
— Esta volta da relação Brasil x Venezuela é plena — afirmou.
E seguiu, falando a Maduro:
— Espero que você contribua conosco para que a relação não seja apenas comercial. Tem que ser comercial. Ela pode ser política, pode ser cultural, econômica, pode ser de ciência e tecnologia. Pode ser entre nossas juventudes construindo parceria, com universidades, pode ser inclusive com nossas Forças Armadas, atuando juntas na fronteira para que a gente combata o narcotráfico.
O presidente venezuelano, por sua vez, agradeceu a recepção e disse que seu país foi vítima de "ideologização" das relações internacionais:
— Esta ideologização extrema das relações internacionais é um fenômeno de aplicação de fórmulas extremistas, da direita, para dividir e atropelar as relações. À Venezuela se aplicou um modelo ideológico extremista, e ainda se aplica. De repente, se fecharam todas as portas, e janelas, para o Brasil. Sendo países vizinhos, países que se amam como povos.
— Hoje se abre uma nova época das relações entre nossos países, entre nossos povos. E nesta nova época deve ocorrer a construção de um novo mapa de colaboração, cooperação, que possa abranger todas as áreas da economia, do comércio, da educação, da saúde, da cultura, da agricultura — prosseguiu Maduro.
O presidente da Venezuela recordou que o país foi alvo de 900 medidas de sanção, que atingiram a economia "como mísseis":
— E a Venezuela passou de uma receita anual de US$ 56 bilhões, de petróleo, para a entrada de US$ 700 milhões por ano, e resistimos. Com coragem. De pé e com um sorriso, porque não perdemos a esperança de uma sociedade melhor, de um mundo melhor.
Maduro disse que um modelo econômico "de guerra" foi adotado, para a recuperação, e que a economia do país, agora menos dependente da receita do petróleo, cresceu em 2022 e há projeções de mais crescimento para este ano.
— Oxalá nunca mais alguém feche as portas entre Brasil e Venezuela e que juntos possamos enfrentar os desafios e o caminho do desenvolvimento compartilhado. Brasil e Venezuela precisam estar unidos, daqui por diante e para sempre — pregou o venezuelano.