O ex-ministro da Justiça Anderson Torres deixou a Polícia Federal (PF) após prestar depoimento, nesta segunda-feira (8), sobre a atuação da Polícia Rodoviária Federal (PRF) no segundo turno das eleições de 2022. Segundo o portal G1, a defesa do ex-ministro afirmou que o "depoimento ocorreu dentro da normalidade".
A suspeita é de que a PRF tenha realizado operações para dificultar que eleitores do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chegassem às urnas para votar. A PRF faz parte da estrutura administrativa do Ministério da Justiça, na época chefiado por Torres.
Torres declarou que nunca interferiu nos planos operacionais da PRF durante as eleições presidenciais de 2022. Ele pontuou ainda que sua única preocupação era combater crimes eleitorais, sem levar em conta o partido ou candidato envolvido.
De acordo com a defesa de Torres, o ex-ministro afirmou à PF que a iniciativa da viagem partiu do diretor-geral da instituição, Márcio Nunes, que o convidou para inspecionar a obra da Superintendência no Estado. Ele também negou ter determinado à superintendência da PF da Bahia que atuasse em conjunto com a PRF na fiscalização comum de rodovias.
Sobre o mapeamento de inteligência apresentado diretamente ao ex-ministro por Marília Alencar, ex-diretora de inteligência do Ministério da Justiça, acerca do resultado do primeiro turno das eleições do ano passado, Torres afirmou que recebeu o boletim, mas não o compartilhou nem com a PRF nem com a superintendência.
O ex-ministro chegou à PF por volta das 14h. Após depor, ele retornou ao Batalhão de Aviação Operacional da Polícia Militar, onde está preso.
A PF investiga as abordagens da PRF a ônibus de eleitores, sobretudo no Nordeste, reduto eleitoral petista. O objetivo é verificar se a corporação foi usada para dificultar votos no petista e para favorecer Bolsonaro. O ex-ministro viajou para a Bahia dias antes do segundo turno, mas a defesa dele nega que Torres tenha dado comandos para PRF interferir na eleição.
O depoimento estava marcado inicialmente para 24 de abril, mas foi adiado a pedido da defesa. Os advogados apresentaram um laudo psiquiátrico e alegaram que o ex-ministro não estava em condições de responder aos questionamentos.
Foi o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), quem mandou a PF remarcar o interrogatório. Moraes argumentou que Torres foi "devidamente avaliado" por uma médica e teve os remédios ajustados. Na última avaliação médica, em 1º de maio, a psiquiatra prescreveu antidepressivo, ansiolítico e antipsicóticos ao ex-ministro.
O ex-ministro do governo Jair Bolsonaro foi detido em 14 de janeiro, em razão de outra investigação, relacionada aos atos golpistas de 8 de janeiro que vandalizaram as sedes dos três Poderes, em Brasília. Torres é suspeito de omissão no caso.