O ministro das Comunicações, Juscelino Filho, escolheu para cuidar do setor de rádio e TV na pasta um sócio do empresário Willer Tomaz. Amigo do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), Tomaz é dono de quatro rádios e uma rede de televisão no Maranhão, reduto eleitoral do ministro, e agora terá um sócio comandando a área de interesse direto para os negócios dele.
O escolhido para a diretoria do Departamento de Radiodifusão Privada é o advogado Antônio Malva Neto, que é sócio de Tomaz em um escritório de advocacia. O novo diretor admitiu que não tem expertise profissional no setor.
— Eu nunca atuei na radiodifusão — afirmou.
Mesmo assim, o ministro enviou a indicação para a Casa Civil, que fez a nomeação sem contestações.
Até o governo Jair Bolsonaro (PL), o sócio do novo diretor do Ministério das Comunicações era um advogado que atuava fora dos holofotes. A relação com o filho mais velho do presidente, porém, jogou luz sobre sua influência entre políticos bolsonaristas. Na CPI da Covid, o relator dos trabalhos, senador Renan Calheiros (MDB-AL), tentou investigar Willer Tomaz por causa das relações dele com Flávio.
Amizade com Flávio Bolsonaro
A estratégia política obrigou o filho do ex-presidente a expor a relação com o empresário. Em raro discurso, Flávio disse, na ocasião, ser "injusta" a citação ao "amigo". Ele protocolou uma representação contra Renan na Procuradoria-Geral da República (PGR), na qual se referia ao advogado como uma pessoa de seu "convívio pessoal".
Tomaz entrou na área da comunicação privada em 2021, quando adquiriu rádios e a TV Difusora, afiliada do SBT no Maranhão. Foi para essa TV que Juscelino concedeu uma de suas primeiras entrevistas como ministro de Luiz Inácio Lula da Silva.
Indicação
Procurado, Malva Neto disse que a indicação foi "estritamente profissional". Afirmou que comunicou a OAB sobre o novo cargo e se afastou do escritório. Nos registros da Receita, porém, ele ainda aparece no quadro societário da empresa de advocacia de Tomaz.
— Chegando um pedido dele (Tomaz) ou de qualquer outro radiodifusor, vai ser atendido dentro da ordem cronológica — afirmou Malva Neto.
Em nota, a assessoria de Juscelino afirmou que a escolha se deu pelo fato de o diretor "conhecer a área". "Foi nomeação técnica, que passou pelo crivo da Casa Civil e outras verificações. É ilação associar esse trabalho às relações societárias de terceiros", diz o comunicado.
Juscelino tem causado constrangimento ao governo federal nas últimas semanas. Ele também é suspeito de ter usado um avião da FAB e recebido diárias para cumprir uma agenda majoritariamente privada em São Paulo, onde participou de um leilão de cavalos.