Mais da metade da bancada gaúcha no Congresso apoia a instalação de comissão parlamentar de inquérito (CPI) para investigar a invasão das sedes dos Poderes da República, ocorrida em 8 de janeiro. Levantamento feito por Zero Hora junto aos 31 deputados e três senadores mostra que 19 dos 34 congressistas são favoráveis à iniciativa. Outros 12 são contra e dois estão indecisos (veja o quadro). Apenas Osmar Terra (MDB) não respondeu.
Há várias tentativas de criação de uma CPI para investigar a o vandalismo provocado por bolsonaristas. No Senado, a iniciativa da senadora Soraya Thronicke (União Brasil-MS) perdeu força com a retirada de nove assinaturas, entre elas a do gaúcho Paulo Paim (PT). A manobra foi conduzida pela base governista, que deseja esvaziar a CPI por receio de que uma investigação parlamentar possa tumultuar as votações na Casa.
Soraya chegou a superar as 27 assinaturas exigidas para a instalação, mas a coleta havia sido feita em janeiro, dando margem a uma controvérsia em torno da validade do requerimento. Como as rubricas haviam sido fornecidas na legislatura passada – a atual legislatura começou em 1º de fevereiro –, era preciso ratificar os apoios. Foi nesse momento que a base governista agiu, convencendo ao menos nove parlamentares a retirarem o endosso.
Em contrapartida, ganha força a criação de uma comissão mista, formada por deputados e senadores. Pelo menos um senador da oposição, Zequinha Marinho (PL-PA), admitiu ter deixado de apoiar a CPI do Senado para fortalecer a CPI mista.
Como já possui o número mínimo de assinaturas (27 senadores e 171 deputados), o colegiado só depende agora de autorização do presidente do Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Pacheco deve se reunir nos próximos dias com os líderes partidários e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) para marcar uma sessão conjunta das duas Casas. A ideia é aproveitar a data para votar não só vetos presidenciais e projetos de lei do Congresso, como também ler o requerimento autorizando a instalação da CPI.
Refletindo a polarização da política nacional e a postura dos parlamentares no Congresso, a bancada gaúcha também se dividiu em dois grupos antagônicos. Enquanto os parlamentares identificados com o ex-presidente Jair Bolsonaro apoiam a CPI, os membros da base do presidente Luiz Inácio Lula da Silva são contra. Neste grupo, apenas Márcio Biolchi (MDB) não é simpático ao governo petista.
Entre os governistas, um argumento se repete para repelir a CPI: já há investigações em curso, a cargo da Polícia Federal e do Ministério Público, inclusive com pessoas presas. Integrante da Mesa Diretora da Câmara, Maria do Rosário (PT) diz que jamais seria contra investigar e punir os vândalos, mas que isso já está sendo feito na esfera judicial.
— Eu sou a favor de uma CPI, mas uma CPI séria, para investigar quem financiou e instrumentalizou a tentativa de golpe de 8 de janeiro. Não essa CPI, criada pela extrema-direita para tumultuar os trabalhos legislativos e convocar quem está investigando as invasões — argumenta Fernanda Melchionna (PSOL).
— Uma CPI agora seria só para tergiversar para não entrarmos nos escândalos do governo Bolsonaro — faz coro Elvino Bohn Gass (PT).
A postura contrasta com a posição tomada pelos partidos de esquerda logo após os atos de 8 de janeiro, quando surgiram os primeiros pedidos de CPI. Na época, a possibilidade de formar uma comissão parlamentar para investigar os atos contagiou os apoiadores do governo, mas a ideia foi rechaçada pelo Planalto tão logo a oposição também manifestou entusiasmo pela CPI.
— Sou muito a favor. Se acusam os patriotas de quebra-quebra, vamos saber quem quebrou? O ministro (da Justiça, Flávio) Dino estava assistindo na janela — diz o deputado Giovani Cherini (PL).
— Quem quer a verdade não tem por que impedir que a população de saiba o que aconteceu. O medo do governo é que a verdade dói e a mentira castiga — provoca Bibo Nunes (PL).
Heitor Schuch (PSB) e Luciano Azevedo (PSD) ainda estão analisando a questão e por enquanto ainda não têm opinião formada sobre a necessidade de CPI. — Estou muito envolvido com o trabalho nas outras comissões e ainda não estudei o assunto. Sei que tem mais de 15 requerimentos. Vamos avaliar com a bancada — diz Schuch.
— Estou avaliando. Estamos recém no começo do governo, da legislatura, não tenho certeza se uma CPI seria bom para o país. Estou mais para bombeiro do que para incendiário — argumenta Azevedo.
VEJA A OPINIÃO OS GAÚCHOS
A FAVOR
Senadores
- Hamilton Mourão (Republicanos)
- Luis Carlos Heinze (PP)
Deputados
- Afonso Hamm (PP)
- Alceu Moreira (MDB)
- Any Ortiz (Cidadania)
- Bibo Nunes (PL)
- Carlos Gomes (Republicanos)
- Covatti Filho (PP)
- Daniel Trzeciak (PSDB)
- Franciane Bayer (Republicanos)
- Giovani Cherini (PL)
- Lucas Redecker (PSDB)
- Luiz Carlos Busato (UB)
- Marcel van Hattem (Novo)
- Marcelo Moraes (PL)
- Maurício Marcon (Podemos)
- Pedro Westphalen (PP)
- Sanderson (PL)
- Tenente Coronel Zucco (Republicanos)
CONTRA
Senadores
- Paulo Paim (PT)
Deputados
- Afonso Motta (PDT)
- Alexandre Lindenmeyer (PT)
- Bohn Gass (PT)
- Daiana Santos (PCdoB)
- Denise Pessôa (PT)
- Fernanda Melchionna (PSOL)
- Márcio Biolchi (MDB)
- Marcon (PT)
- Maria do Rosário (PT)
- Pompeo de Mattos (PDT)
- Reginete Bispo (PT)
INDECISOS
Deputados
- Heitor Schuch (PSB)
- Luciano Azevedo (PSD)
NÃO RESPONDEU
Deputado
- Osmar Terra (MDB)