Sem citar prazos, ou perspectiva de reversão do processo de liquidação iniciado no governo Bolsonaro, o novo gestor do Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec), professor Augusto Cesar Gadelha Vieira falou sobre a situação da empresa, situada no bairro Agronomia, em Porto Alegre, ao Gaúcha Atualidade, desta quarta-feira (22).
Vieira apontou que a missão da Ceitec é "não só criar produtos para o mercado, mas também formar uma competência nacional na área de semicondutores".
— Apesar de não ter dado lucro específico financeiramente, a Ceitec atraiu indústrias para o Rio Grande do Sul, atraiu interesse de olhos internacionais para o país e com isso houve um ganho, sim — afirmou Vieira.
Perguntado sobre a volta das atividades na empresa, o professor ressaltou que o governo federal criou um grupo de trabalho interministerial para elaborar um estudo sobre as perspectivas de crescimento e a possibilidade de contribuição do Ceitec para o país.
— E essa contribuição deve ser representada não somente em termos financeiros, de lucro, mas também em termos de treinamento, e fazer com que recursos humanos extremamente qualificados sejam gerados no país — disse Gadelha Vieira.
O professor ressaltou que a Ceitec têm limitações tecnológicas que a impedem de produzir chips mais complexos, como para computadores e celulares, mas listou os produtos que a empresa tem a capacidade de produzir, dentre eles tags para identificação veicular, chips para o passaporte brasileiro, o "chip do boi", entre outros.
— São áreas que a gente pode certamente pleitear em participar dentro do mercado, e temos competência pra isso. O Ceitec, ele é capaz de criar todos os processos, desde o design até o encapsulamento, como é chamada a parte final de testes — explicou.
O professor ressalta que os chips são extremamente valiosos e estão presentes em quase todos os dispositivos que utilizamos no dia a dia, e que o Brasil precisa se inserir nesse ecossistema:
— Nós sabemos que isso é fundamental dentro de uma luta internacional e geopolítica entre os grandes países em função da importância fundamental dos chips, que hoje fazem parte de todos os equipamentos que nós fazemos, celulares, de tudo que a gente hoje está utilizando dentro de casa. Hoje são como petróleo no início do século 20. Ou seja, são realmente o sangue da sociedade.
Relembre
Em junho de 2020, o Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) do governo de Jair Bolsonaro recomendou a extinção da Ceitec, alegando que a estatal não dava lucro e era ineficiente. Em dezembro daquele ano, um decreto presidencial oficializou a decisão. O processo de liquidação envolvia a transferência de projetos e patentes da empresa para uma Organização Social, que seria criada.
Já em setembro de 2021, o Tribunal de Contas da União (TCU) determinou a interrupção do processo. O ministro revisor, Vital do Rêgo, afirmou, em seu voto, que o processo que fundamentou a dissolução tem "fragilidades insuperáveis".
No início do governo Lula, a ministra de Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, comunicou formalmente o Estado sobre a decisão de reverter o processo de liquidação da Ceitec. Como o período de vigência da liquidação venceria em 10 de fevereiro, uma assembleia foi realizada em 8 de fevereiro, na sede da empresa, na Capital. Além da nova gestão, pelo período de seis meses, foram definidos o conselho fiscal e o nome do professor Augusto Cesar Gadelha Vieira como novo liquidante.
O governo federal criou, no mesmo dia, um grupo de trabalho, que terá 120 dias de prazo, prorrogáveis, para apresentar os resultados de levantamentos e definir o futuro da Ceitec.