Colorado, pai de dois filhos e cozinheiro nos momentos de lazer, o deputado Vilmar Perin Zanchin (MDB), 50 anos, é um conciliador nato. Não por acaso, o novo presidente da Assembleia Legislativa é descrito por amigos, colegas, assessores e até por adversários como um político afável, diplomático, reservado, avesso a radicalismos e cuidadoso com o uso das palavras.
O deputado é aliado do governador Eduardo Leite e do vice Gabriel Souza, chapa pela qual fez campanha em 2022, mas promete dar voz e vez a todas as bancadas durante a presidência no legislativo. Na última terça-feira (31), Zanchin foi eleito com rara unanimidade no plenário da Assembleia, incluindo os votos da oposição.
— É um deputado que procura entender o problema, se atualiza, lê e estuda o assunto. Consegue ter uma opinião qualificada dos temas que permeiam o debate. É muito envolvido com temas das comunidades as quais representa. Vai fazer um grande mandato — descreve o vice-governador.
No discurso da posse, Zanchin destacou a educação como principal bandeira de sua gestão na Casa. O deputado espera que a Assembleia atue em complemento ao governo do Estado, mobilizando a sociedade para o tema sob dois eixos principais: a preparação dos jovens para o mercado de trabalho e a formação de cidadãos.
— A educação é fundamental para ter desenvolvimento pleno. Pode haver desenvolvimento fazendo investimentos em alguns setores, mas se a educação não estiver inserida como ponto central, você tem um desenvolvimento capenga — avaliou Zanchin, em entrevista concedida à GZH na última sexta-feira (3), no gabinete da presidência.
Econômico com adjetivos e concentrado nos temas regionais, especialmente nas demandas dos municípios do interior do Estado, o novo presidente da Assembleia não ignora o cenário nacional. Em seu discurso de posse, sem citar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-presidente Jair Bolsonaro, defendeu a pacificação do país. Sua tese é de que os vencedores em outubro de 2022 devem ter a iniciativa de buscar a pacificação, enquanto os vencidos precisam aceitar a derrota e se preparar para a disputa seguinte.
Na eleição presidencial, Zanchin seguiu o caminho trilhado pelo seu partido, o MDB. No primeiro turno, apoiou Simone Tebet. No segundo, seguiu a orientação do diretório municipal de Marau, que fechou apoio a Bolsonaro. Mas isso não quer dizer que Zanchin seja bolsonarista ou antipetista, dizem amigos e assessores, que atribuem o voto mais ao critério da "exclusão" do que por alinhamento automático de ideias com o ex-presidente.
— Eu tenho convicção de que o caminho para o Brasil é o centro. Não são os extremismos que podem construir alguma solução para o Brasil — pondera o deputado, que condena os atos de vandalismo de 8 de janeiro, sem fazer ressalvas.
Quarto mais votado dos seis deputados do MDB da atual legislatura, com 44.367 votos, e um dos mais experientes, Zanchin chegou a ser cotado para o secretariado do governo Leite. No fim, a bancada do MDB acabou escolhendo o marauense para a presidência da Assembleia, enquanto Juvir Costella foi para a Secretaria dos Transportes, função que já ocupara na gestão passada.
— O Zanchin é uma pessoa muito correta, agregadora. Ele tem diálogo com todas as correntes, seja mais de esquerda ou direita. É uma pessoa de construção, muito calmo e consciente — opina o deputado Carlos Búrigo, colega de bancada do MDB.
— Ele é uma pessoa cordial e minha expectativa é que ouça a todos e aja de forma democrática — observa a deputada Luciana Genro (PSOL).
Sem as polêmicas que marcaram o primeiro governo de Leite, quando foram aprovadas as reformas previdenciária e administrativa e as privatizações, os primeiros meses da gestão de Zanchin devem ser marcados pela análise da reestruturação do IPE Saúde e do piso dos professores. O Piratini ainda não informou quando enviará os projetos.
Origens
Ainda pouco conhecido na Região Metropolitana, Zanchin construiu e mantém a sua base política em Marau, no norte do Estado, a 262 quilômetros da Capital. Foi secretário, vereador, vice-prefeito e prefeito do município de 2005 a 2012. Chegou a presidir a Famurs entre 2010 e 2011. Depois, elegeu-se deputado estadual por três mandatos consecutivos, em uma sequência ininterrupta de sete disputas e sete vitórias nas urnas.
Zanchin nasceu na comunidade de Sagrado Coração de Jesus, comunidade conhecida na cidade como "Tamanco Pega". Segundo as histórias contadas de geração em geração, a expressão é uma referência a uma briga generalizada que teria ocorrido em um baile. Uma das versões narra que as mulheres teriam separado a briga com tamancos. Outra versão é de que os homens teriam brigado com tomancos de madeira. O certo é que, depois do episódio, quem precisasse ir para a comunidade era alertado de que "lá, o tamanco pega".
O deputado é o sexto filho em um grupo de 11 irmãos, todos do sexo masculino. Seus pais eram "agregados" em uma propriedade rural, isto é, trabalhavam manualmente como agricultores em plantações de milho e feijão, mas não eram os proprietários da terra.
Com pouco dinheiro e uma família numerosa, os Zanchin se mudaram para a cidade quando Vilmar tinha seis anos. A mudança de endereço favoreceu os estudos e abriu caminho para que ele pudesse ganhar algum dinheiro como entregador de leite no trajeto que fazia até a escola.
No Ensino Médio, no Instituto Estadual Santo Tomas De Aquino, o adolescente começou a militar no movimento estudantil. Também foi no colégio que conheceu a esposa, Lúcia, professora com quem está casado há 25 anos e tem dois filhos, Afonso e Vicente.
O deputado diz que "sempre teve muito claro" para si que queria estudar. Formado em Direito pela Universidade de Passo Fundo, foi o primeiro e único dos irmãos a concluir curso no ensino superior. A despeito das dificuldades econômicas, pagou uma parte dos estudos com os primeiros salários que recebeu e financiou o resto.
Seu irmão gêmeo, Vilmo Zanchin, conta que o deputado sempre teve um perfil mais "concentrado, focado". Vilmo é vereador e já presidiu a Câmara Municipal. Hoje é cotado para concorrer a prefeito em Marau e costuma se aconselhar com o irmão.
— Desde pequeno, ele estudava bastante. Ficava mais em casa. Já eu era mais extrovertido, festeiro, caçador e pescador. Ele é mais intelectual — compara Vilmo.
Nos últimos anos de colégio e no período de universidade, na virada das décadas de 1980 para 1990, Zanchin viveu a efervescência da redemocratização brasileira e engajou-se no movimento estudantil caras-pintadas, pelo impeachment do então presidente Fernando Collor.
No contexto regional, participou ativamente da mobilização para reivindicar transporte gratuito para os estudantes universitários marauenses. O movimento surtiu efeito e até hoje o benefício é mantido pela prefeitura do município.
Respeito entre adversários
A entrada de Zanchin na vida pública não foi um acaso, mas também não foi planejada, diz o deputado. Sem tradição familiar na política local, começou como assessor e chegou a secretário da prefeitura. Em 1996, decidiu lançar-se candidato a vereador e venceu. Seu mandato foi marcado pela cordialidade com os adversários.
— Ele sempre foi um agregador, não ia para o embate, não alimentava a rivalidade. Nunca foi de levantar a voz. Foi desse jeito que ele cresceu — conta o irmão gêmeo, Vilmo.
Na eleição seguinte, Zanchin concorreu a vice na chapa encabeçada por João Antônio Bordin, do PT. Aliados que acompanharam o movimento e o próprio emedebista dizem que a aliança foi puramente "pragmática", com a intenção de isolar e vencer o PP, principal adversário do MDB em Marau e parte do grupo político que havia vencido quase todas as eleições desde a emancipação.
Entre 2005 a 2012, foi prefeito por dois mandatos. De sua época, as principais lembranças são a pacificação política e a revitalização de parques e vias da cidade.
— Ele é o maior político da história de Marau, embora eu reconheça a importância de todos que ajudaram a transformar a cidade. Ele modernizou a abriu as portas da cidade. A indústria cresceu, a área de serviços cresceu. Gerou emprego e veio muita gente para cá — avalia o atual prefeito, Iura Kurtz, herdeiro político de Zanchin.
Marau também é o berço político da família Turra. O pai, Francisco, foi prefeito do município na década de 1980 e ministro da Agricultura no governo Fernando Henrique Cardoso. Mais tarde, seria deputado federal no mesmo período em que Zanchin foi prefeito da cidade. Os dois garantem que trabalharam juntos nas pautas relacionadas à região.
Na última terça-feira, data da posse, Turra mandou uma mensagem por WhatsApp a Zanchin cumprimentando o emedebista pela eleição ao cargo.
— Sempre cultivamos uma bela amizade, com respeito. Soubemos tratar bem as diferenças. Ele é muito tenaz na busca dos seus objetivos, trabalhador e dedicado — elogia o ex-ministro.
Sérgio Turra, o filho, disputou diretamente votos com Zanchin em 2014 e 2018, quando os dois foram eleitos deputados estaduais. No ano passado, Sérgio concorreu a federal, fez votação expressiva, mas ficou de fora da Câmara dos Deputados.
— Disputamos (os votos), mas com muito respeito, até porque ele já tinha uma carreira política consolidada. Ele é um cara discreto, sério, trabalhador. A Assembleia está em boas mãos — diz Sérgio.
Família
Com a agenda tomada por compromissos políticos na Assembleia e roteiros pelo Interior, Zanchin afirma que dedica menos tempo do que gostaria à família. Apesar disso, mantém residência em Marau e viaja para a cidade com frequência, reservando pelo menos um dia da semana para conviver os filhos e a esposa.
— O Zanchin foi muito presente, com todas as dificuldades como prefeito. Ele sempre dava um jeito de estar presente — diz Ivanir Roncatto, assessor da confiança de Zanchin há 23 anos, período em que foi seu vice-prefeito, chefe de gabinete e, hoje, é superintendente da Assembleia.
O deputado assiste a jogos do Internacional com Vicente, o filho mais novo. Já foram juntos a jogos do Inter no Beira-Rio. Mas, coerente com o seu estilo político, o emedebista passa longe de ser um torcedor fanático.
— A minha parte de fanatismo ficou com o Vicente — diverte-se Zanchin.
Outra atividade de lazer da família é assistir a filmes juntos. Recentemente, viram a quinta temporada de The Crown, série que dramatiza a vida da rainha Elizabeth II. Gostaram, garante o deputado.
— Fim de semana que estou em casa, sem agenda, a cozinha é por minha conta. Não sei se cozinho bem, mas dá para alimentar os de casa (risos). Eu gosto muito de ficar com eles, até porque os meus dois meninos nasceram dentro da prefeitura. E não que eu seja um pai ausente, mas a presença física foi muito limitada. Então quando eu posso, eu fico com eles.