Mensagens obtidas pela reportagem da revista Veja indicariam que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) apresentou a aliados, após a derrota nas eleições, um plano para tentar prender o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, e evitar a posse de Luiz Inácio Lula da Silva na Presidência.
O plano envolveria o senador Marcos do Val (Podemos-ES), que nesta quinta-feira (2) disse, em transmissão pela internet, que sofreu pressão de Bolsonaro para se envolver em um golpe e que pretende renunciar ao mandato. Do Val já havia adiantado que a Veja revelaria "uma bomba". Outro envolvido é o ex-deputado Daniel Silveira, que foi preso, por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF), nesta quinta.
Segundo as mensagens a que a reportagem teve acesso, o plano de Bolsonaro consistia em mandar um aliado se reunir com Moraes, com um gravador escondido, e tirar dele alguma declaração que pudesse indicar interferência do TSE no resultado do pleito, o que embasaria um pedido de prisão do ministro. Em reunião com Silveira e Do Val, Bolsonaro teria proposto que o senador cumprisse esta missão, de gravar Moraes, e teria dito que o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) daria o apoio técnico à ação.
Do Val, no entanto, quando foi chamado ao encontro com Bolsonaro e Silveira, teria antecipado o risco de ser envolvido em algo comprometedor e alertado Moraes a respeito. Depois da reunião em que o plano golpista teria sido apresentado, teria denunciado a conspiração ao ministro. O senador e o presidente do TSE teriam se reunido no STF, durante um intervalo da votação sobre a constitucionalidade do orçamento secreto, em dezembro. Ao relato de Do Val sobre o plano, Moraes teria respondido apenas:
— Não acredito.
Depois deste encontro, o senador teria avisado ao então deputado Daniel Silveira que não aceitaria a "missão" que lhe havia sido dada.
A Veja diz que tentou contato com todos os citados. Silveira respondeu que está impedido, por decisão judicial, de falar com jornalistas. Moraes disse que não comentaria as informações. A reportagem não conseguiu contato com Bolsonaro, que está nos Estados Unidos desde 31 de dezembro. O senador Marcos do Val confirmou que participou da reunião, ouviu o plano e o denunciou ao presidente do TSE.
— Na hora, eu disse que aquilo era ilegal. Que gravações sem autorização judicial poderiam configurar crime. Nunca compactuei com atos radicais ou extremistas. Sou um democrata, sempre vou lutar para que a democracia permaneça inabalável. Uma operação como a que estava sendo articulada colocaria o Brasil em isolamento mundial, provocaria uma grave crise econômica, traria mais miséria e pobreza. As consequências seriam imprevisíveis — disse Do Val, em entrevista à Veja.