Em pouco mais de sete horas em solo gaúcho, a comitiva do governo federal, que veio apresentar as medidas emergenciais de combate à estiagem, pôde vivenciar um pouco as agruras enfrentadas pelos produtores rurais. Os ministros do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Wellington Dias, e da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, Paulo Pimenta, estiveram em Hulha Negra nesta quinta-feira (23).
Os ministros ouviram de produtores e políticos que é preciso mais do que liberar recursos. Entidades encaminharam propostas para tornar definitiva uma política de ajuda ao agricultores de Rio Grande do Sul.
Antes dos pronunciamentos, os ministros visitaram um dos 28 assentamentos de pequenos produtores. Na propriedade de Sirinei dos Santos, ouviram que a perdas com a estiagem já atingem 80%.
— Está tudo torrado — disse o produtor de leite aos ministros, se referindo ao campo, que já não produz a quantidade de alimento para o gado.
Santos viu encolher a quantidade de leite que tira das vacas de 4 mil litros para 1,5 mil. Das 54 cabeças de gado, duas não resistiram e morreram com a seca.
Em ato realizado no assentamento Meia Água, os ministros confirmaram os R$ 430 milhões de recursos anunciados na véspera. De forma imediata, o governo federal promete entregar a verba para uso dos produtores enquanto outras medidas sejam desenvolvidas.
— Deu entrada, 24 horas, 48 horas depois (já vamos) liberar recurso para os produtores, enquanto se resolve problema de (construção de) poço, cisterna e barragem, que levam mais tempo — destacou o ministro Wellington Dias.
Segundo Dias, medidas de médio e longo prazo já poderão começar imediatamente, como construção de barragens, canalização de água e irrigação. Dias acredita inclusive, que ações poderão ser percebidas já no próximo verão.
Paulo Teixeira foi questionado sobre a alteração na legislação ambiental, que poderia avançar no licenciamento de reservas de águas, mas limitou-se a dizer que o assunto está em discussão e, por enquanto, não há novidades.
— Isso tem de ser estudado. Vamos levar esse tema ao Ministério do Meio Ambiente. Eu não tenho como dar uma resposta agora. A gente precisa estudar como vai avançar na regulação de barragens nesta região — ponderou Teixeira.
O governador Eduardo Leite se comprometeu em aprofundar a interlocução com o governo federal para que as ações cheguem rapidamente até os produtores rurais.
— O governo está estudando outros anúncios que nos possamos fazer. Alguns deles dependem de estruturação mais detalhada e nós preferimos ter estruturado os programas para poder anunciar — destacou Leite, que só confirmou a ida à Hulha Negra ao final da manhã de quinta-feira, quando os ministros já haviam chegado ao Rio Grande do Sul.
Leite lembrou o cenário de incertezas que envolve o orçamento do Estado, com decisões federais que cortaram recursos para o Rio Grande do Sul. Estes “obstáculos orçamentários” acabaram limitando mais ações, disse ele.
Ao final da sua fala na cerimônia, o ministro Wellington Dias chamou os representantes do governo federal, o governador Eduardo Leite, o prefeito de Hulha Negra, Renato Machado, e representantes de produtores para darem as mãos. Destacou que o ato era um compromisso com o povo.
— A partir de hoje ninguém larga a mão de ninguém. Vamos seguir juntos para trabalhar — disse Dias, em meio aos registros dos fotógrafos.