A jornalista Bruna Oliveira colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
No pacote de medidas emergenciais trazido na bagagem dos ministros que desembarcaram nesta quinta-feira (23) no Rio Grande do Sul, as entidades que acompanham a situação dos produtores no detalhe sentiram falta de muitas ações. Ainda que todo socorro seja bem-vindo, a avaliação é de que faltaram medidas mais abrangentes aos agricultores e de longo prazo para que as estiagens não se repitam.
— É importante a visita e a representação dos ministérios. Acho que agora eles entenderam a gravidade da seca. Mas os anúncios são aquilo que já esperávamos. Atendem a uma parcela de pessoas, mas são insuficientes. São importantes para os povos tradicionais, mas para os demais agricultores, ficou muito a desejar — avaliou o presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag-RS), Carlos Joel da Silva.
Os ministros do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Wellington Dias, e da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, Paulo Pimenta, foram recebidos em Hulha Negra.
Mas somente ações pontuais foram comunicadas durante o roteiro em Hulha Negra, além dos R$ 430 milhões que já haviam sido anunciados pelo governo federal ainda na véspera da comitiva pisar em solo gaúcho. Entre elas, o prazo de 48 horas para os municípios com decretos de emergência homologados pela União terem acesso a recursos.
A prioridade do socorro emergencial será garantir abastecimento de água para o consumo. O recurso destinado a este fim, aliás, deverá ser liberado imediatamente. São R$ 100 milhões direcionados ao apoio às prefeituras para a contratação de carros-pipa, combustível para as prefeituras que já têm os veículos e distribuição de cestas básicas.
O que a visita viu foi um pequeno recorte da situação crítica enfrentada em todo o Estado. Somente em Hulha Negra, o prejuízo pela estiagem soma mais de R$ 60 milhões, conforme estimado pela Emater. As perdas chegam a 90% em algumas produções.
O ministro Paulo Teixeira disse que continua o processo de negociação por mais medidas.
Diante da ausência de ações mais concretas, o presidente da Fetag-RS disse que permanece a cobrança. Nos próximos dias, entidade voltará a Brasília para reforçar o pedido de apoio do governo e o anúncio de novas medidas.
— Faltou o desconto dos financiamentos, as prorrogações por tempo alongado, o crédito emergencial. As principais pautas não foram vencidas. Faltou bastante coisa que a gente cobrou os ministros e vamos ter que seguir trabalhando para vencer sem ajuda estatal — cobrou Joel.
Presidente da Frente Parlamentar da Agricultura Familiar, o deputado gaúcho Heitor Schuch (PSB) também considerou que será necessário avançar.
— Ainda ficam pendentes questões urgentes como recursos para a renegociação de dívidas e uma linha de crédito de até R$ 50mil com 10 anos para pagamento e rebate de 30% de adimplência, como vínhamos propondo — afirmou Schuch.
Representando a Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (Fetraf-Sul), Cleonice Back celebrou as medidas, mas também sentiu falta de ações estruturantes para conter novas secas.
— São medidas importantes, mas não suficientes para atender a demanda dos agricultores familiares. Nossa expectativa era por mais, principalmente de financiamento emergencial — disse Cleonice.