Lideranças do PDT, apoiadores e familiares de Leonel Brizola se reuniram na estátua do ex-governador, ao lado do Palácio Piratini, em Porto Alegre, neste sábado (21), para celebrar a vida e luta política do gaúcho e sua esposa, Neusa Goulart. O evento reuniu 50 pessoas, incluindo a deputada estadual e neta de Leonel, Juliana Brizola, e o presidente nacional da sigla, o ministro da Previdência Social, Carlos Lupi.
O domingo (22) marcará os 101 anos do nascimento de Leonel. Já o sábado é a data do aniversário de Neusa. A homenagem foi antecipada para aproveitar a presença de Lupi na Capital. Apoiadores de diferentes gerações compareceram com bandeiras do partido, se emocionaram e mataram a saudade do líder responsável pela resistência à tentativa de golpe militar em 1961, movimento conhecido como “Legalidade”.
— O Brizola defendeu a legalidade aqui deste palácio, sua principal arma foi um microfone e uma rádio. O país hoje infelizmente ainda enfrenta algo semelhante àquela época. Relembrar a memória e a luta dele é celebrar a defesa da democracia e do Estado brasileiro de direito. Povo que não conhece bem sua história tende a repeti-la de maneira equivocada — comentou Juliana, neta e deputada estadual pelo PDT.
— Nesta celebração a gente toca o coração com a saudade. No momento que vivemos, é preciso relembrar a coragem e o empenho de Brizola defendendo a liberdade e a constituição. A democracia é como o oxigênio: ninguém toca nem vê, mas ninguém vive sem. É hora de todos brasileiros defenderem a democracia brasileira — avaliou o ministro Carlos Lupi, presidente do PDT.
O irmão mais novo de Brizola, Jesus de Moura, economista aposentado, improvisou um discurso em homenagem ao ex-governador. Com termos e gestos parecidos aos de Leonel, arrancou aplausos ao questionar os modelos econômicos atuais e pregar uma reavaliação das forças políticas que são divididas entre direita e esquerda.
Uma reflexão parecida foi feita pela secretária do Movimento Negro do PDT, Eni Canarim, 82 anos. Ela vestia uma camiseta estampada com uma foto de Brizola cumprimentando o ativista negro Abdias do Nascimento, com a bandeira do Brasil ao fundo. Questionada sobre a vestimenta trazendo um símbolo associado aos apoiadores do ex-presidente Bolsonaro nos últimos anos, ela destaca:
— Vê o que está escrito aqui, é “ordem e progresso”, e não desordem — aponta, complementando:
— Sou brizolista, fui getulista e janguista. Tenho essas convicções desde a infância, não gosto da distinção entre direita e esquerda, o que existe é o poder sobre o sistema. Sinto que há um uso dos dois lados das promessas sobre educação, mas depois de eleitos deixam ela de lado — argumenta, relembrando um do principais legados de Leonel como governador e deputado.
A admiração por Brizola toca também os mais novos. Gabriel Coelho, 17 anos, estudante do terceiro ano do Ensino Médio, foi ao evento com uma bandeira da Juventude Socialista do PDT. Ele diz ter sido influenciado pela família a conhecer o trabalho do político, mesmo tendo nascido anos depois da aposentadoria do centenário pedetista.
— Em um primeiro momento de militância eu era mais adepto a vertentes mais extremas da esquerda, mas lendo e estudando encontrei novas ideias que se adaptam melhor à realidade e às crenças que tenho — contou.
O pai de Gabriel, Caco, surpreendeu o público de cerca de 50 pessoas reunidas sob o brilhante sol do meio-dia ao final das falas e homenagens de familiares. Quando o público finalizava o refrão do hino da Independência, tradicional canto brizolista, o ator e diretor teatral bradou com o dedo em riste, imitando a estátua do político:
— Acordem! Acordem! Os tanques estão vindo da Serraria!
O que em um primeiro momento pareciam gritos ameaçadores sem conexão com a realidade se mostrou uma potente declamação de um dos discursos de Brizola de junho de 1961. As palavras ditas pelo então governador do Rio Grande do Sul contra o golpe militar que havia sido autorizado pela capital do país para destituir João Goulart, vice-presidente eleito, originalmente veiculadas pelas ondas da Rádio Guaíba e ditas de improviso do porão do Palácio Piratini, voltaram a emocionar os ouvintes no centro da Capital mais de 60 anos depois.
— Brizola cravou seu nome em uma página importante da história nacional. Foi o brado mais forte de defesa da democracia que o Brasil já viu — opinou Caco Coelho, 61, depois de abraçar e beijar o filho Gabriel.