Um relatório divulgado nesta segunda-feira (9) pelo Senado estima que os bolsonaristas que invadiram o local durante atos golpistas no domingo causaram prejuízo em torno de R$ 3 a R$ 4 milhões. Conforme a diretora-geral da Casa, Ilana Trombka, o orçamento inclui os estragos na estrutura, em itens do mobiliário e obras de arte durante o ataque.
Já na Câmara dos Deputados, um levantamento preliminar indica custo de pelo menos R$ 100 mil somente para o conserto das vidraças do local. Outros itens, como o tapete do Salão Verde — com valor de material estimado em R$ 20 mil —, também foram alvo dos invasores.
A relação completa de todos os objetos danificados, assim como os gastos totais e prazos para a restauração ainda são desconhecidos. O setor de conservação do Congresso Nacional trabalha na avaliação dos estragos.
A diretora do Senado explicou que é impossível cravar um prazo para que a restauração seja concluída, mas informou que a direção vai dar prioridade a obras visando a posse dos novos senadores, marcada para 1º de fevereiro.
— Nós identificamos primeiro essa questão dos vidros, segundo a questão dos carpetes, terceiro a questão das obras de arte que foram danificadas e têm que ser recuperadas. Temos também o nosso material da polícia do Senado, que foi utilizado ontem (domingo) e que precisamos repor — enumerou Ilana Trombka.
Entrando no Senado pelo Salão Negro, é possível encontrar muitas vidraças quebradas e algumas pichadas. Os equipamentos de raio X para fiscalizar visitantes não escaparam da ação dos vândalos. Os invasores usaram os hidrantes do local, de combate a incêndio, para molhar e danificar boa parte do piso e carpetes do salão.
No Salão Nobre, onde são realizadas solenidades de cunho cultural, um painel do artista plástico Athos Bulcão sofreu danos. Ali também está a tapeçaria de Burle Marx na qual os bolsonaristas urinaram.
De acordo com Ismail Carvalho, profissional do Laboratório de Conservação do Senado, ainda é cedo para precisar os prejuízos em valores, já que, além dos itens que passarão por processo de restauração e de outros que não terão como ser recuperados, há objetos não localizados.
— A gente ainda precisa fazer um diagnóstico minucioso em cada obra de arte que foi danificada, em cada bem cultural, mas um ato de vandalismo numa obra de arte deixa marcas perenes. Por melhor que seja o processo de restauração de uma obra, as marcas da agressão serão eternas — lamentou.
Outras obras de arte atacadas são os cinco quadros pintados em tinta óleo da exposição de ex-presidentes da Casa, no Museu do Senado. Soma-se a essas obras uma tela do artista gaúcho Guido Mondim, que foi arrancada de uma moldura, e um tinteiro de bronze da época do Império. Diante de uma primeira análise do cenário, Carvalho considerou que o prejuízo financeiro será elevado:
— Infelizmente, só uma tinta de restauro daquele painel (de Athos Bulcão), um tubo de 20ml, custa quase mil reais. Então o desrespeito com a história brasileira, desrespeito mesmo com o bolso de cada cidadão que vai financiar todas essas atitudes de restauro, é lamentável.
Boa parte da estrutura interna do Senado e da Câmara também foi afetada. A porta de vidro da entrada principal do Plenário do Senado, por exemplo, ruiu. Equipamentos e estrutura de transmissão das sessões plenárias pelo serviço de comunicação da Casa ainda estão sob análise para que se possa avaliar a extensão dos danos e os custos dos ajustes.
Cadeiras, poltronas e outros móveis — inclusive uma mesa do século 19, já usada na época do Palácio Monroe (que foi sede da Câmara e do Senado, quando a capital federal era o Rio de Janeiro) — foram danificados. A divisa de vidro entre o Salão Azul (Senado) e o Salão Verde (Câmara) foi estilhaçada, assim como a maquete tática que oferece uma noção panorâmica da estrutura das duas Casas.
As portas de entrada da sala da presidência do Senado e o mobiliário da antessala foram totalmente destruídos. Armários foram revirados e materiais de trabalho perdidos, além de câmeras de segurança quebradas.
Na Câmara, os corredores que levam a gabinetes das lideranças partidárias tiveram as vidraças quebradas. Salas foram reviradas e alvo de depredação. No caminho, a escultura Bailarina, do artista plástico Victor Brecheret, ficou no chão. A obra ainda será periciada para verificar se sofreu dano. Seis dos 46 presentes protocolares expostos no Salão Verde desapareceram ou foram considerados irrecuperáveis. Outros foram encontrados com danos pontuais.
No Palácio do Planalto, diversas obras de arte foram danificadas. O governo federal divulgou uma lista com alguns dos itens destruídos. Já na sede do Supremo Tribunal Federal (STF), o levantamento que irá catalogar os estragos e quantificar os prejuízos deve começar após o término do trabalho da perícia. Segundo a Corte, não há previsão para a divulgação do relatório.