Após um veto político do Palácio do Planalto, o tenente-coronel Mauro Cesar Barbosa Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, se antecipou e pediu para não assumir agora um novo cargo no Exército. Alvo de investigações sobre movimentações financeiras do ex-presidente, Cid havia sido nomeado no ano passado para comandar o 1º Batalhão de Ações de Comandos (BAC), em Goiânia (GO), uma unidade de elite da força terrestre.
Íntimo colaborador de Bolsonaro nos quatro anos de governo do ex-presidente, Cid já se programava para assumir o cargo de comandante em fevereiro, mas enviou pedido de adiamento ao novo comandante-geral, general Tomás Miguel Miné Ribeiro Paiva.
Protocolado nesta terça-feira (24) no gabinete do comandante, o requerimento de Cid foi deferido. Com isso, o tenente-coronel deve ficar na situação de "adido", sem uma função específica no Exército, até que se esclareça sua real atuação no possível esquema de caixa dois com os cartões corporativos da presidência da República, que está sob investigação no Supremo Tribunal Federal (STF).
O ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, afirmou que o "coronel Cid", como é chamado, não deveria assumir a chefia do batalhão enquanto a investigação estivesse em aberto.
— Nós também não estamos condenando ninguém por especulação, não cometer uma injustiça. Mas tenham absoluta certeza que, se tiver algum fato comprovado, isso deverá ser adiado, postergado, alguma coisa vai acontecer — disse Múcio, em entrevista à GloboNews.
O pedido de "adiamento" chegou ao gabinete do comandante-geral no mesmo dia da primeira Reunião do Alto Comando do Exército (RACE), sob a chefia de Tomás. O caso de Cid seria tratado nas discussões. No encontro, o general Tomás passou diretrizes aos demais generais de quatro estrelas. Ele também comunicou que irá a São Paulo realizar a passagem do Comando Militar do Sudeste, nesta quarta-feira (25), a um general interino.
Cid foi pivô de uma crise. A informação de sua escolha para o 1º BAC provocou protestos no primeiro escalão. Lula ordenou o veto. Segundo ministros palacianos e oficiais do Exército, a recusa em retirá-lo do cargo foi o último episódio a contribuir para a demissão do ex-comandante-geral, general Julio Cesar de Arruda, na manhã do sábado (21).
Na véspera, o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, tentou convencer Arruda a barrar a posse de Cid, sem sucesso. Como Lula já havia perdido a confiança em parte dos militares da ativa, o demitido foi Arruda. O presidente estava irritado com decisão do general de posicionar blindados e bloquear prisões no acampamento bolsonarista em frente ao Quartel-General em Brasília, na noite da invasão e depredação das sedes dos Poderes, e com a permissão para o desembarque de extremistas no Setor Militar Urbano. Pesaram também as evidências de que o Batalhão de Guarda Presidencial (BGP) falhou na contenção dos ataques.
Sob apuração, o coronel Paulo Jorge Fernandes da Hora, comandante do BGP, também está de saída do cargo. A troca era prevista para dezembro, mas ele permaneceu por causa das precauções de segurança na cerimônia de posse presidencial. O período normal na função são dois anos, já completados por Fernandes. O substituto será o tenente-coronel Nélio Moura Bertolino.
No ano passado, o então comandante-geral, general Marco Antônio Freire Gomes, nomeou Mauro Cid como comandante do 1º BAC. A portaria é de 12 de maio. Ele nunca assumiu porque estava requisitado pelo Gabinete de Segurança Institucional e exercia a função de assessor-chefe na Ajudância-de-Ordens de Bolsonaro.
Cid só foi dispensado em 4 de janeiro pelo chefe de gabinete de Lula, Marco Aurélio Ribeiro Santana, o Marcola. Em seguida foi "revertido" à Força Terrestre e poderia começar os trâmites para assumir o batalhão. O Exército não informou por quanto tempo a nomeação de Cid ficará em "suspenso", mas diante do veto político o mais provável é que ele não assuma mais essa chefia.
Segundo oficiais do Quartel-General, o motivo foram as suspeitas levantadas contra ele. O 1º BAC é vinculado ao Comando de Operações Especiais, que cuida de operações sensíveis e são tratados como uma unidade prestigiada, para a qual é necessário concluir uma série de cursos.