Entre fevereiro e março deste ano, o Brasil descobriu que nunca antes em sua história recente havia produzido tão poucos eleitores de 16 e 17 anos quanto às vésperas das eleições de 2022. O baixo nível de água no reservatório da democracia brasileira acendeu o alerta das autoridades. Tribunal Superior Eleitoral (TSE), os tribunais regionais (TREs) e organizações da sociedade civil deram partida em uma mobilização para atrair os jovens para o voto. Uma das primeiras ações foi o tuitaço convocado pelo TSE com a hashtag #RolêDasEleições.
Nas redes sociais, ações de incentivo ao primeiro voto ganharam corpo com o apoio de famosos como a cantora Anitta, Zeca Pagodinho, a ex-BBB Juliette e Luísa Sonza, além de times de futebol e entidades sociais. Houve reação, mas o indicador de jovens eleitores em março ainda seguia no pior patamar da série, com 1,05 milhão de jovens eleitores.
Irresignados, órgãos públicos, entidades civis, grupos de jovens, influenciadores e artistas brasileiros e inclusive estrangeiros, incluindo atores de Hollywood, dobraram a aposta no diálogo com a juventude e conseguiram criar um ambiente de mobilização nacional. Brotaram país afora ações digitais como Cada Voto Conta, Seu Voto Importa e Olha o Barulhinho. “Obrigado aos heróis da democracia no Brasil que estão ajudando os jovens a se registrarem para votar. Saiba mais sobre como tirar o seu título online até o dia 4 de maio”, escreveu o ator norte-americano Leonardo DiCaprio, um dos estrangeiros engajados na campanha.
Funcionou. Os dados parciais mostram que a comunicação eleitoral adaptada aos jovens mais o engajamento voluntário de famosos dá frutos. Em 5 de maio, o TSE atualizou o banco de dados e o eleitorado de 16 ou 17 subira para 1,6 milhão (de um total de 6,1 milhões de pessoas dessa faixa etária vivendo no país, conforme estimativa do IBGE). O patamar ainda é o mais baixo da atual série histórica, mas tende a crescer substancialmente nas próximas semanas, quando a Justiça Eleitoral terminar de processar as centenas de milhares de pedidos de títulos de eleitor feitos dentro do prazo encerrado no último dia 4. Os dados consolidados do eleitorado saem até 11 de julho.
— Vimos, como há muito tempo não se via, um país unido pelo bem, pela concórdia, um país unido para o fortalecimento da democracia — valorizou o presidente do TSE, Edson Fachin, ao anunciar os dados parciais, no último dia 5.
A facilidade de tirar o título pela internet colaborou para que a mobilização digital se transformasse no efetivo cadastro de novos eleitores. Pela internet, a inscrição leva poucos minutos.
— Verificamos sete vezes mais atendimentos no fechamento do cadastro de 2022 do que em anos anteriores, mostrando que a internet facilitou o acesso da população à Justiça Eleitoral — relata o secretário de Tecnologia da Informação do TRE-RS, Daniel Wobeto.
Além de ações emergenciais de conscientização, a Justiça Eleitoral realiza programas permanentes para levar informações básicas sobre o sistema político brasileiro e as eleições às novas gerações. O TRE-RS, por meio da Escola Judiciária Eleitoral (EJE-RS), vai a escolas ensinar os fundamentos da cidadania, a importância da participação das mulheres e detalhar a segurança do processo de votação. Além de estímulo ao voto juvenil, o programa mira no desenvolvimento de líderes.
— O pouco engajamento (eleitoral) talvez seja muito mais uma questão de a gente saber como acessar o jovem e despertar isso nele do que necessariamente ter algo a ensinar a eles. Os jovens têm bastante a nos ensinar, às vezes — avalia Carlos Vinicios de Oliveira Cavalcante, coordenador da Escola Judiciária Eleitoral do Rio Grande do Sul.
Convencer a nova geração – que cresceu em um país democrático – a tirar o título de eleitor é apenas o primeiro desafio. Um segundo passo, igualmente desafiador, é convencer os eleitores, incluindo os mais jovens, a sair de casa no dia do pleito e depositar o seu voto.
— O grande desafio desse jovem eleitor é que ele perceba que a estrutura tradicional está ali à disposição e ele deve ter voz ativa. Não só nas redes sociais, mas também nas estruturas tradicionais. A Justiça Eleitoral está à disposição para que participem como eleitores e quiçá, no futuro, como candidatos — ressalta o coordenador da EJE-RS.
Nas eleições de 2018, o país registrou uma abstenção média de 20,3% – a maior desde 1998 para eleições gerais. Entre os eleitores de 16 a 20 anos, a abstenção ficou entre 14,5% e 19,4%, dependendo da faixa etária. Na faixa dos 21 aos 24 anos, a ausência em 2018 bateu os 20,98%. A observar como será em 2022.