Nome mais cotado nos bastidores para assumir o Ministério da Educação (MEC), o reitor do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), Anderson Ribeiro Correia, tem reforçado nas redes sociais o discurso conservador, caro ao governo. Em recentes publicações, o engenheiro civil criticou a cantora Anitta por músicas que seriam "péssima influência para as crianças".
Dez dias após Anitta chegar ao primeiro lugar mundial entre as músicas mais tocadas no Spotify com o hit Envolver, Correia disse não ter orgulho do recorde global quebrado pela brasileira. "Uma letra completamente baseada em álcool, cigarro e pornografia; uma péssima influência para as crianças brasileiras. Popularidade sem qualidade só rebaixa a cultura brasileira", publicou o reitor do ITA no Twitter sobre a cantora, que critica fortemente o governo e o presidente Jair Bolsonaro nas redes sociais.
Antes disso, em 15 de março, Correia havia postado na mesma rede social um gráfico com as ações da Netflix "em queda livre". Naquele dia, o Ministério da Justiça e Segurança Pública tentou censurar o filme Como se Tornar o Pior Aluno da Escola, inspirado em obra do humorista Danilo Gentili, determinando que fosse retirado de plataformas de streaming. A reclamação surgiu cinco anos depois do filme ser lançado e em razão de uma cena na qual crianças sofrem assédio sexual de um personagem adulto, em ambiente escolar.
As ações da Netflix negociadas na bolsa nova-iorquina Nasdaq, de fato, vinham em franca queda naquela semana, mas por um contexto mundial de relaxamento nas medidas de isolamento social, condição que deu impulso aos papéis da empresa no início da pandemia. O reitor do ITA, no entanto, não fez qualquer menção direta à tentativa de censura ao filme.
Já em 11 de março, quando a Petrobras formalizou o reajuste dos combustíveis, Anderson Correia tentou minimizar o impacto para o consumidor. "Se vc está preocupado com o preço da gasolina, imagine as empresas aéreas. O Airbus A380 carrega 320 mil litros de combustível", publicou o engenheiro civil. O aumento dos combustíveis é visto como um fator prejudicial para a campanha à reeleição de Bolsonaro.
O MEC está sem titular efetivo desde a queda de Milton Ribeiro, há uma semana. O pastor presbiteriano deixou o governo pressionado pela revelação de um gabinete paralelo na pasta. Como apontaram reportagens, dois pastores sem qualquer função pública intermediavam o repasse de verbas e controlavam a agenda do ministro, com acusações de pedidos de propina para liberar recursos a municípios. A Polícia Federal investiga o caso. O ex-secretário-executivo da pasta Victor Godoy Veiga assumiu o ministério interinamente.
Anderson Correia é cotado para ser indicado à pasta em definitivo e articula a nomeação com parlamentares. Ex-presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (Capes), ele é visto por setores do Congresso como um nome ideal: enquanto reitor do ITA, uma das principais entidades de Ensino Superior do país, é técnico, mas também evangélico e bem relacionado com o centrão, bloco de partidos sem ideologia que apoia o governo federal no Legislativo.
Correia já havia sido cotado para assumir o MEC antes mesmo de Milton Ribeiro ocupar a cadeira, mas acabou preterido pelo pastor, que é amigo pessoal da primeira-dama Michelle Bolsonaro e do ministro André Mendonça, agora integrante do Supremo Tribunal Federal (STF).