Prefeitos das cidades de Bonfinópolis, em Goiás, e Boa Esperança do Sul, São Paulo, revelaram que o pastor Arilton Moura teria solicitado propina para facilitar a liberação de recursos para construção de escolas nos municípios. Segundo matéria do jornal O Globo, os pedidos variaram de R$ 15 mil a R$ 40 mil, além da compra de bíblias.
O gestor de Bonfinópolis, Kelton Pinheiro conta que se reuniu na sede Ministério da Educação (MEC), em Brasília, com o ministro da Educação Milton Ribeiro e outros 15 gestores municipais no dia 11 de março do ano passado. Na ocasião, o ministro fez um discurso contra a corrupção e deixou o local na companhia dos pastores Moura e Gilmar Santos. Em seguida, os religiosos chamaram os prefeitos para um almoço.
No restaurante, Moura teria se sentado na mesa de Pinheiro e questionou se ele teria algum pedido de melhorias para a sua cidade. Ao ouvir que a cidade precisava de mais uma escola, o pastor teria solicitado dinheiro para ajudá-lo na empreitada junto ao MEC. Em determinado momento, o pastor teria pedido para que o prefeito fizesse uma oferta para igreja e comprasse as bíblias para ajudar na construção de um templo.
— Seria uma venda casada. Eu teria que comprar essas bíblias, porque ele estava em campanha para arrecadar dinheiro para a construção da igreja — afirmou Pinheiro.
História parecida é narrada pelo prefeito de Boa Esperança do Sul, José Manoel de Souza. Ele afirma que participou de um encontro promovido pelo ministro da Educação com cerca de 30 gestores municipais no dia 13 de janeiro de 2021. Na reunião, o gestor municipal pretendia apresentar demandas de ampliação de uma escola na cidade e acabar com a terceirização de ônibus escolar.
O prefeito conta que, após protocolar seu pleito no ministério da Educação, ele e outros chefes de Executivos municipais foram para um restaurante na companhia do pastor Arilton Moura, ocasião em que teria ocorrido o pedido de propina.
— Eu o abordei e perguntei: "Senhor Arilton, como serão as liberações? Vai ser para todos os municípios?" E ele falou: "Vamos ali fora...Eu vou ser bem sincero. Tem escolas profissionalizantes no seu município?" Eu disse que não, porque a cidade é pequena, e a gente precisa aumentar creches e ônibus escolar. E ele falou: "Se você quiser, eu passo um papel agora, ligo para uma pessoa e as escolas profissionalizantes vão chegar ao seu município, mas em contrapartida, você precisa depositar R$ 40 mil para ajudar a igreja. Uma mão lava a outra, né?" Eu bati nas costas dele e falei: "Obrigado senhor Arilton, mas para mim não serve".
Em nota, o ministro da Educação negou as acusações de irregularidades e afirmou que "não há nenhuma possibilidade" de "determinar alocação de recursos para favorecer ou desfavorecer qualquer município ou Estado". Procurado, Gilmar Santos não retornou os contatos feitos pela reportagem. Em nota oficial publicada em suas redes sociais, o pastor negou que tivesse qualquer poder sobre a agenda ou as verbas do MEC.
Entenda o caso
Nesta quarta-feira (23), o procurador-geral da República, Augusto Aras pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) a abertura de uma investigação contra o ministro da Educação, Milton Ribeiro e os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura pela atuação deles no Ministério da Educação (MEC). A investigação do ministro envolve os crimes de corrupção passiva, tráfico de influência, prevaricação e advocacia administrativa. O ministro teria cometido os delitos ao permitir o aparelhamento religioso da estrutura do MEC com a criação de um gabinete paralelo operado pelos pastores evangélicos.
O pedido tem como base representações de parlamentares a partir de uma série de reportagens do Estadão e da Folha de S.Paulo que revelou a existência desse gabinete paralelo e a cobrança de propina em dinheiro e um quilo de ouro a prefeitos em troca de recursos para a construção de creches e escolas públicas nos municípios.
O vice-presidente da República, Hamilton Mourão comentou sobre a crise no MEC. Ele disse a jornalistas que Milton Ribeiro é uma pessoa honesta e educada e que há necessidade de uma investigação sobre as denúncias. Mourão também afirmou que não vê problema em manter Ribeiro no cargo de ministro da Educação.