O agora ex-governador Eduardo Leite transmitiu o cargo na noite desta quinta-feira (31) a seu sucessor, Ranolfo Vieira Júnior, com um discurso que combinou a despedida dos três anos que passou no Palácio Piratini com a reafirmação de suas intenções de disputar a Presidência da República — embora tenha repetido que "não questiona a legitimidade" das prévias do PSDB vencidas por João Doria e se coloca à disposição para ajudar o projeto de terceira via de qualquer forma, mesmo que apenas em articulações de bastidores e não como concorrente.
Em seu discurso de adeus, mas também de apresentação à disputa federal, em pouco mais de 20 minutos Leite fez questão de combinar a citação das principais conquistas de sua gestão no Estado com críticas veladas ao presidente Jair Bolsonaro. Sem citar o nome do presidente em momento algum, condenou a política de confronto promovida pelo Palácio do Planalto, a busca de "inimigos internos" e a condução da estratégia nacional de combate ao coronavírus.
— Atacamos os problemas, não pessoas, ou "inimigos internos", em uma guerra declarada, de povo contra povo, o que nós não aceitamos — discursou o agora ex-governador, em referência direta a uma recente declaração de Bolsonaro de que os inimigos do país não eram externos, mas internos.
O clima de lançamento de candidatura ao Planalto foi reforçado pelo novo governador, Ranolfo, que fez questão de referendar a intenção inconfessa de Leite de buscar o mandato de presidente.
— Recebo as chaves do palácio de suas mãos com muita honra, da mesma forma que espero que receba, em 1º de janeiro do ano que vem, as chaves de outro palácio — disse Ranolfo, em referência ao Planalto, sob aplausos das centenas de pessoas que superlotaram as dependências do Piratini.
No começo da transmissão de posse, um vídeo destacou as principais realizações do governo, como as reformas administrativa e previdenciária, privatizações, redução de índices de criminalidade e estímulo à inovação.
Logo depois da assinatura do termo de transmissão do cargo, já como ex-governador, Leite destacou a importância de buscar a realização de sonhos na administração pública e ressaltou que, até sua posse, o governo gaúcho se limitava a "tentar chegar ao final do mês", e agora recuperou capacidade de investimento.
Ao assumir mais fortemente o tom de candidato ao Planalto, destacou a importância de buscar o diálogo e evitar os confrontos permanentes para criar um ambiente favorável ao desenvolvimento. Ao final da cerimônia, perguntado sobre a disputa interna com João Doria, que decidiu manter-se candidato à Presidência pelo PSDB, Leite foi fiel ao espírito moderado e procurou evitar colocar-se em situação de conflito aberto.
— Ninguém questiona a legitimidade das prévias. Os episódios que aconteceram hoje (quinta-feira), as especulações, não mudam absolutamente nada do que eu já falei até aqui. As prévias têm legitimidade, ninguém questiona a posição de João Doria como pré-candidato — afirmou o tucano.
Mas Leite observou que, ao se tentar buscar uma composição política com outros partidos, uma de suas estratégias para tentar se cacifar à disputa nacional, outros nomes podem ser cogitados para se chegar àquele que seja mais viável.
Ranolfo promete manter austeridade fiscal
Se a cerimônia no Palácio Piratini acabou marcada pelas dúvidas envolvendo o futuro político de Eduardo Leite, foi no evento anterior, na Assembleia Legislativa, que o 40º governador gaúcho, Ranolfo Vieira Júnior, pôde concentrar todas as atenções e se manifestar de forma mais direta sobre suas estratégias à frente do governo.
Um dos pilares será a manutenção do controle de gastos.
— A vitória sobre a crise fiscal é um componente importante, não o único, mas o mais facilmente desmontável — discursou Ranolfo, ressaltando que assumia o timão de um barco "em bom rumo".
O novo governador destacou ainda medidas como redução de ICMS e retomada de investimentos, e prometeu adotar conceitos de “gestão integrada” para acelerar desembolsos do Programa Avançar — que vem alocando recursos em áreas como saúde, educação e ciência.