Só faltou o governador de São Paulo, João Doria, fazer uma performance no ato de renúncia, abrir o sorriso de dizer “he, he, he, peguei vocês... 1º de abril”. Doria espalhou que tinha desistido de renunciar, cumpriria o mandato até o fim e não seria candidato a presidente. Sua esposa, Bia, chegou a dar entrevista à jornalista Monica Bergamo, da Folha de S.Paulo, dizendo que era um desejo da família ver o marido fora da política.
Era blefe, como desconfiara o governador Eduardo Leite ao ler, no início da manhã, as publicações dos principais portais de notícias. Leite, que seria o principal favorecido pela eventual renúncia de Doria, não se empolgou.
— Talvez seja estratégia dele para forçar o partido a assumir claramente que ele é o candidato — disse Leite à coluna pela manhã.
Era estratégia e funcionou. A direção do PSDB encaminhou carta aos principais líderes tucanos reafirmando o respeito às prévias e garantindo que Doria é o candidato. A carta foi uma tentativa de evitar a implosão do PSDB de São Paulo, já que o vice-governador Rodrigo Garcia ameaçava desistir da candidatura.
O que o governador de São Paulo ganhou com a pantomima? Nada além do gostinho de pregar uma peça no adversário gaúcho, que anunciou a renúncia na segunda-feira (28) sem ter nada na mão. Nada indica que Doria subirá nas pesquisas ou conseguirá aliados por essa esperteza, nem mesmo agora que um candidato com melhores índices do que ele tirou o time de campo.
Mais do que o blefe de Doria, a saída de Sergio Moro da disputa foi o fato relevante do dia. Sem avisar os senadores que o receberam de braços abertos, Moro abandonou o Podemos (leia nota do partido abaixo) e filiou-se ao União Brasil, partido pelo qual deverá disputar uma vaga de deputado federal por São Paulo. Para ser aceito, o ex-ministro da Justiça precisou se humilhar: o secretário-geral do União Brasil, ACM Neto, candidato ao governo da Bahia, emitiu nota dizendo que ele seria bem-vindo, mas não poderia entrar como pré-candidato à Presidência.
Ainda que seus amigos tratem a saída como um gesto de grandeza para facilitar a pavimentação da terceira via, a verdade é que Moro saiu menor da tentativa de ser presidente da República. Rendeu-se diante da constatação de que estava empacado nas pesquisas e deixou a ver navios os políticos que entraram no Podemos contando colher dividendos com a parceria.
O ex-presidente Lula (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL) agradecem.
ALIÁS
Como se acreditasse nas próprias palavras, o agora ex-governador Eduardo Leite disse na transmissão de cargo para Ranolfo Vieira Júnior apoiará João Doria se ele conseguir unir as forças políticas e furar a polarização.
Veja a nota do Podemos sobre a desfiliação de Sergio Moro
"Foi mais de um ano de conversas até a filiação de Sergio Moro e o lançamento de sua pré-candidatura à presidência da República pelo Podemos, sempre respeitando seu momento de vida profissional e pessoal e trabalhando para oferecer ao Brasil uma esperança contra a polarização dos extremos.
O Podemos jamais mediu esforços para garantir ao presidenciável uma pré-campanha robusta, a começar por um grande evento de filiação e por toda retaguarda necessária para deslocamentos em segurança pelo País, com total garantia de recursos para sua futura campanha eleitoral.
O Podemos não tem a grandeza financeira daqueles que detém os maiores fundos partidários, como é sabido por todos. Mas, tem a dimensão daqueles que sonham grande, com a convicção de que o projeto de um Brasil justo para todos vale mais do que o dinheiro.
Para a surpresa de todos, tanto a Executiva Nacional quanto os parlamentares souberam via imprensa da nova filiação de Moro, sem sequer uma comunicação interna do ex-presidenciável.
Seguiremos focados para apresentar aos brasileiros e brasileiras uma alternativa que olhe nos olhos sem titubear. E que, com firmeza de propósitos, nunca desista de sonhar. Porque, sim, juntos podemos mudar o Brasil!
Renata Abreu
Presidente do Podemos"