Usando um cocar na cabeça, o presidente Jair Bolsonaro foi homenageado nesta sexta-feira (18) — pelo próprio governo federal — com a Medalha do Mérito Indigenista. A outorga, oficializada no Diário Oficial da União (DOU) na quarta-feira (16), mas só entregue a Bolsonaro nesta sexta, ocorreu em cerimônia reservada no Ministério da Justiça e vem no momento em que o Executivo pressiona o Congresso a aprovar um projeto de lei que autoriza a exploração mineral em terras indígenas.
Durante seu rápido discurso, Bolsonaro fez uma menção indireta ao projeto de lei.
— Queremos que vocês façam em suas terras o que nós fazemos nas nossas — disse o presidente, que também repetiu a tese de que os indígenas são diferentes de outros povos. — O que nós sempre quisemos foi fazer com que vocês se sentissem exatamente como nós.
O evento de entrega da homenagem não constava na agenda oficial de Bolsonaro, embora a legislação oriente a publicidade dos compromissos de autoridades.
Bolsonaro costuma dizer que a exploração mineral em terras indígenas, se aprovada, só vai ocorrer com anuência dos povos locais e que a medida é essencial para diminuir a dependência brasileira dos fertilizantes importados, com destaque para os insumos russos, cuja oferta foi estrangulada pela guerra na Ucrânia. No entanto, como já mostrou o Estadão, a maior parte das reservas de potássio, matéria-prima dos fertilizantes, na Amazônia não está em terras indígenas.
A Medalha do Mérito Indigenista é oferecida a quem presta "serviços relevantes, em caráter altruístico, relacionados com o bem-estar, a proteção e a defesa das comunidades indígenas", de acordo com o governo.
Ainda receberam a homenagem, durante a cerimônia, os ministros Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Bruno Bianco (Advocacia-Geral da União) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria-Geral da Presidência), assim como o diretor da Força Nacional, coronel Aginaldo, marido da deputada federal bolsonarista Carla Zambelli (PL-SP), e o recém-empossado diretor da Polícia Federal, Márcio Nunes.
O presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Marcelo Augusto Xavier da Silva, afirmou na solenidade que Bolsonaro "contribuiu sobremaneira" para a proteção da população e dos direitos indígenas.
— Com foco na autonomia e no protagonismo, bem como no desenvolvimento sustentável — destacou, apesar de a política ambiental do governo ser criticada internacionalmente.
O ministro da Justiça, Anderson Torres, disse ser "leviano" defender que o governo federal realiza desmonte dos direitos indígenas.