O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), está investindo em uma estrutura para concorrer ao Palácio do Planalto em 2022. Embora sofra pressão dentro do próprio partido para desistir da disputa presidencial, o tucano mantém o cronograma de campanha.
Doria quer concentrar as agendas em São Paulo até o dia 1º de abril, uma sexta-feira, quando deixará o cargo. Logo depois, vai se mudar com seu "núcleo duro" para uma ampla casa na Avenida Brasil, no Jardim América, bairro nobre da capital paulistana. O local terá salas reservadas para o ex-deputado pernambucano Bruno Araújo, presidente nacional do PSDB — que é o coordenador da pré-campanha —, e Rodrigo Maia, que prometeu se dividir entre sua candidatura a deputado no Rio de Janeiro e o comitê de Doria.
O entorno do governador admite que a relação com Araújo passa por um momento difícil, mas espera, mesmo assim, que ele passe parte da semana despachando na capital. O presidente do PSDB é uma peça-chave para Doria, já que comanda a executiva do partido e, consequentemente, os recursos públicos dos fundos Partidário e eleitoral, além de ser o interlocutor oficial das conversas com MDB, União Brasil e Cidadania.
Ao contrário de 2018 e 2014, desta vez o pré-candidato presidencial tucano não tem a máquina partidária na mão e assiste a uma dissidência interna aberta se movimentando sem a censura de Araújo.
O primeiro movimento de Doria depois que deixar o cargo será colocar em campo uma narrativa para tentar desconstruir a rejeição ao seu nome, que é maior do que a aversão ao seu governo, segundo pesquisas internas. A ideia é "humanizar" o tucano, que é visto por grande parte dos eleitores com "marqueteiro", "ambicioso" e representante da elite.
Bahia e Minas
Doria planeja começar a pré-campanha pela Bahia, sua "terra natal", e lá relembrar a história de seu pai, deputado cassado pela ditadura, e das dificuldades que passou na infância decorrentes disso. Depois da Bahia, deve ir para Minas Gerais, reduto de seu arquirrival, deputado Aécio Neves, e segundo maior colégio eleitoral do Brasil.
Além de Maia, o secretário de Desenvolvimento Regional, Marco Vinholi, que preside o PSDB-SP, também sairá do governo para se dedicar à campanha. O time de Doria quer deixar na futura gestão de Rodrigo Garcia (PSDB) — atual vice e pré-candidato à reeleição — o secretário particular do governador, Wilson Pedroso, para que atue na interface entre as duas campanhas: estadual e nacional. Aliados do governador dizem contar com a "lealdade" de Garcia, que vai assumir a máquina em abril e disputar o Bandeirantes.
A base de Doria na Avenida Brasil terá ainda o ex-ministro baiano Antonio Imbassahy, o ex-prefeito de Campos do Jordão Fred Guidoni, que será coordenador de Mobilização, além de uma equipe de comunicação com três nomes: os marqueteiros Daniel Braga, Guillermo Raffo e Eduardo Fisher.
Anti-Lula
A estratégia vislumbrada, segundo integrantes do núcleo próximo ao governador, também é focar os ataques na esquerda — basicamente no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e retomar o histórico antipetista que o ajudou a se eleger duas vezes. Em vez de atacar o presidente Jair Bolsonaro e a direita, a campanha tucana vai tentar transformar o governador no "anti-Lula" e, ao mesmo tempo, "colar" a vacina da covid-19 na imagem do tucano.
Doria vai ainda fazer gestos de reconciliação interna, estreitar laços com a bancada e manter-se próximo de Sergio Moro (Podemos) e Simone Tebet (MDB).
Ele tem dito que acredita numa união dos três pré-candidatos ainda no primeiro turno e aposta nas pesquisas para definir quem será o representante único da terceira via. Confia, assim, que nos próximos meses alcançará um índice mais elevado de intenções de voto.