A posse de Idenir Cecchim (MDB) na presidência da Câmara Municipal de Porto Alegre, na tarde desta segunda-feira (3), é uma sinalização de que o Legislativo estará ainda mais alinhado ao prefeito Sebastião Melo em 2022.
No primeiro ano da gestão, em 2021, Cecchim foi líder do governo e todos os projetos de interesse do Paço Municipal, incluindo reformas estruturais que suscitaram polêmica, foram aprovados com segura margem de votos, resultado de uma base ampla e sólida. Agora, com Cecchim na presidência, a identidade entre Legislativo e Executivo tende a se aprofundar, embora o vereador assegure que irá manter a “independência” da Câmara.
— Fui líder do governo e acabei sendo eleito presidente pela unanimidade dos 36 vereadores. Isso aconteceu mesmo com os embates com a oposição. É fruto do meu jeito de dialogar. Vou manter a independência do poder, mas não dá para esconder que tenho afinidade com o Executivo. Vamos fazer de tudo para ajudar a administração e a cidade — diz Cecchim.
Ele substituirá na presidência da Câmara o vereador Márcio Bins Ely, do PDT, sigla que se declara independente, sem vínculo formal com situação ou oposição, embora os dois integrantes da bancada (o outro é o vereador Mauro Zacher) mantenham boa relação com Melo.
Cecchim afirma que ainda não discutiu com o prefeito os projetos prioritários a serem votados em 2022. A escolha do novo líder do governo também está pendente.
O presidente da Câmara assegura que buscará ser um democrata na condução do Legislativo. Em 2021, debates acalorados ocorreram entre governistas e oposicionistas, com rispidez que ultrapassou, em determinados momentos, os parâmetros tradicionais da política.
— Tivemos um ano tenso. Até porque foram votados projetos polêmicos, como o da reforma da previdência, a desestatização da Carris, a quebra do monopólio da Procempa e a retirada gradual dos cobradores dos ônibus. Foram debates muito acirrados, mas aprovamos, graças a Deus, todos os 64 projetos do Executivo. Vou manter a democracia dentro da Câmara, respeitando e ouvindo todos os partidos. Eu serei o moderador. Presidente não toma decisões sozinho — afirma Cecchim.
Também houve o episódio em que manifestantes contrários ao passaporte vacinal levaram ao plenário da Câmara um cartaz contendo a inscrição da suástica nazista, em outubro, o que deu início a uma briga com troca de empurrões e safanões entre militantes de extrema-direita e vereadores de oposição. Naquela ocasião, Bins Ely estava em compromisso externo e, casualmente, coube a Cecchim a presidência da sessão.
— Mandei retirar as pessoas que estavam com a suástica na mão. Quando mais um ou dois apareceram com a mesma suástica, mandei retirar toda a galeria. Vamos seguir o regimento e manter a boa convivência. O Parlamento não pode ser desrespeitado — avisa Cecchim.
Para a gestão da Câmara, ele afirma que está analisando a conveniência de realizar obras físicas e investimentos em equipamentos. Cita a possibilidade de reformar o teto da Casa, o que geraria uma economia no gasto de ar-condicionado. Ainda faz referência a potenciais aportes de recursos para qualificar o sistema de som e o painel de votações da Câmara.
— São equipamentos que precisam ser revistos. Temos de dar condições de trabalho aos 36 vereadores, sem exagero no gasto público, dentro da legalidade e da moralidade. Existem projetos maiores, como a construção de um prédio anexo na Câmara. Vamos avaliar se é necessário e se vale a pena — projeta o presidente.
Trajetória
Aos 67 anos, Idenir Cecchim está no exercício do quarto mandato de vereador de Porto Alegre. Natural de Nova Prata, na Serra, mudou-se com a família aos três anos para a pequena Ibiraiaras, no nordeste gaúcho. Só aos 17 anos veio para a Capital, onde foi trabalhar na construtora Tedesco.
Tornou-se empresário do ramo das pedras naturais, como basalto, caxambu e miracema. Ingressou no MDB em 1978, seu único partido até hoje. Atuou em dois momentos no governo estadual. Na gestão de Pedro Simon (1987-1990), foi chefe de gabinete da Secretaria de Indústria e Comércio do Estado. Mais adiante, no governo de Germano Rigotto (2003-2006), exerceu o cargo de secretário-executivo do Conselho de Desenvolvimento e Integração Sul (Codesul).
Em 2005, quando José Fogaça assumiu a prefeitura de Porto Alegre, Cecchim virou titular da Secretaria Municipal da Produção, Indústria e Comércio (Smic). Foi nessa função que ele coordenou o projeto e as obras de construção do camelódromo, no centro de Porto Alegre, o que acabou retirando vendedores ambulantes das ruas, sobretudo os que ficavam aglomerados na Praça XV de Novembro. Ele ressalta como conquista daquela época a adoção do alvará de localização provisório, o que permitiu a legalização temporária de empresas que tinham problemas com o Habite-se do prédio em que tinham sede.
No embalo da vitrine da Smic, elegeu-se vereador pela primeira vez em 2008. A pedido de José Fogaça, que havia sido reeleito, licenciou-se e reassumiu a secretaria. Depois, foram três reeleições para o Parlamento porto-alegrense.
No MDB, Cecchim é um quadro posicionado mais à direita, apontado como um político próximo do ex-governador José Ivo Sartori. Em 2018, quando tentou a reeleição e quase surpreendeu Eduardo Leite (PSDB) na reta final da eleição, Sartori tinha Cecchim como coordenador-geral de campanha.
Embora já tenha assumido várias funções em que o poder de conciliação se faz necessário, Cecchim tem certa fama de esquentado. No Legislativo, protagonizou diversos embates acirrados e algumas situações polêmicas. Em uma delas, quando um grupo de jovens invadiu o plenário da Câmara, ele desferiu um pontapé em um dos manifestantes, que havia se desequilibrado.