O advogado Tadeu Frederico Andrade, paciente da Prevent Senior, contou à CPI da Covid, nesta quinta-feira (7), detalhes sobre o tratamento contra a covid-19 que recebeu em um hospital da operadora de saúde em São Paulo. De acordo com o depoente, a empresa queria convencer a família dele a desligar os aparelhos que o mantinham vivo quando foi entubado na UTI — uma prática que, segundo afirma, tinha como objetivo "eliminar" pacientes.
— Sou um sobrevivente. Minha família lutou contra essa poderosa corporação chamada Prevent Senior. Eles lutaram para que eu não viesse a óbito. Eles não aceitaram a imposição dos chamados "cuidados paliativos", que era a prática do Prevent Senior para eliminar pacientes de alto custo — afirmou.
Para isso, segundo o advogado, médicos da operadora mostraram o prontuário de outra pessoa aos seus familiares.
— Eles tentam convencer minha família de que, pelo prontuário na mão, eu tinha marcapasso, eu tinha sérias comorbidades arteriais e que eu tinha uma idade muito avançada. Esse prontuário não era meu, era de uma senhora de 75 anos. Eu não tenho marcapasso. A única coisa que tenho é pressão alta — explicou.
O advogado contou que médicos da Prevent informaram à família que o caso dele não tinha mais cura, dizendo que, com os cuidados paliativos, ele teria "mais dignidade e conforto" e que o óbito ocorreria "em poucos dias". Andrade revelou ainda que os cuidados paliativos foram inseridos no prontuário sem autorização da família.
— Às 14h54min, a doutora Daniela (de Aguiar Moreira da Silva) insere no meu prontuário início dos cuidados paliativos, sem autorização da família, e recomenda que não se faça mais hemodiálise, não se ministre mais antibiótico e também não faça ressuscitação. Ao final, ela escreve: "Em contato com a filha Maíra, a mesma entendeu e concorda". Isso é mentira, minha família não concordou — relatou o advogado, afirmando que o prontuário foi entregue à CPI e ao Ministério Público de São Paulo.
O depoente disse que os médicos só desistiram de removê-lo da UTI para um leito híbrido após os familiares ameaçarem procurar a Justiça e a imprensa. Um médico particular também foi contratado pela família para monitorar o estado de saúde do paciente.
Andrade também confirmou que, antes de ser internado, um motoboy entregou em sua casa o chamado kit covid, com medicamentos sem eficácia comprovada para a doença.
— Espero que todos nós honremos as vítimas dessa trama macabra, de pessoas que morreram sem chance de defesa — desabafou o advogado, com a fala embargada.
Em nota, a Prevent Senior afirma que a médica da operadora de saúde fez uma sugestão de tratamento paliativo ao paciente e não uma determinação. A empresa também negou ter iniciado o tratamento à Tadeu sem autorização da família. “O paciente recebeu e continua recebendo todo o suporte necessário para superar a doença e sequelas", diz a operadora de saúde.
O caso Prevent Senior foi revelado pela CPI da Covid após médicos da operadora entregarem um dossiê à comissão sobre o tratamento dado a pacientes com coronavírus aos beneficiários do plano. Entre as denúncias, estão a alteração de prontuários para ocultar a doença de atestados de óbito e a prescrição indiscriminada de remédios ineficazes para a covid-19.