Depois de ouvir críticas sobre a liberação de armas e a condução da pandemia pelo seu governo nas celebrações do Dia da Padroeira, o presidente Jair Bolsonaro tirou a máscara e causou aglomeração, nesta terça-feira (12), no Santuário Nacional de Aparecida. Ele, que já tinha provocado um grande ajuntamento de pessoas na chegada, desfilou com o corpo fora do carro quando saiu do santuário.
Parte do grupo, que se espremia nas cercas de segurança, o aplaudiu e chamou de "mito", enquanto um coro menor gritava "lixo". Um chinelo foi arremessado do meio do público, mas não atingiu o presidente. Vídeos foram publicados em perfis do presidente em redes sociais.
Bolsonaro assistiu à missa da tarde na companhia dos ministros Marcos Pontes, da Ciência, Tecnologia e Inovações, e João Roma, da Cidadania. Na homilia, à frente do presidente, o padre José Ulysses da Silva, porta-voz do santuário, fez uma referência indireta à postura armamentista do governo.
— Se conseguíssemos abraçar a proposta de Jesus nós seríamos um povo mais desarmado e fraterno — afirmou o padre.
Citando um trecho do evangelho lido por Bolsonaro durante a celebração, o religioso lamentou os mortos pela covid-19 e disse que "a vida é um valor que deve prevalecer sobre todo e qualquer outro valor, sobre nossos interesses políticos, econômicos e até religiosos". Desde o início da pandemia, o presidente sempre se posicionou contra as medidas de isolamento social, alegando prejuízo econômico.
Segundo o padre, é graças à solidariedade da população que o país não atravessa uma crise ainda mais violenta.
— Nós sabemos quantas pessoas perderam a vida para cuidar da nossa. Há mesas vazias, há desemprego e há sequelas da enfermidade — afirmou.
Disse, ainda, que além do "dragão da pandemia" há o "dragão da ganância" que suga a vida de quem mais precisa e "tem muita gente sofrendo".
As declarações do padre ecoaram a homilia da principal missa do dia, celebrada pelo arcebispo de Aparecida, dom Orlando Brades, pela manhã:
— Para ser pátria amada, não pode ser pátria armada.
Na cerimônia da tarde, Bolsonaro se apresentou para receber o sacramento católico da comunhão e participou do ritual de consagração à Nossa Senhora. Importante para os católicos e devotos da santa, o ritual não é aceito pelos evangélicos, que compõem importante base de apoio ao presidente.
Durante a missa, Bolsonaro e seus ministros usaram máscaras, embora a direção do santuário já tivesse decidido permitir a participação presidencial na celebração mesmo sem a proteção facial. Antes da missa, o presidente se reuniu com o padre Carlos Eduardo Catalfo, reitor do santuário, e com dom Orlando, que presidiu a celebração.
Quando esteve no santuário de Aparecida em seu primeiro ano de mandato, no 12 de outubro de 2019, Bolsonaro foi aplaudido, mas também foi vaiado pelos fiéis. Naquele dia, o arcebispo havia usado a homilia da missa para criticar duramente "o dragão do tradicionalismo" e afirmar que "a direita é violenta, é injusta, estão fuzilando o Papa, o Sínodo, o Concílio Vaticano Segundo". Depois, na presença do presidente, amenizou o tom, dizendo que os dragões seriam as ideologias "tanto da direita quanto da esquerda".
O presidente passa o feriado no Forte dos Andradas, em Guarujá, litoral paulista. Após a visita a Aparecida, ele retornou ao local, que funciona como hotel de trânsito da Marinha. Nesta quarta-feira (13), Bolsonaro retoma a agenda indo a Miracatu, no Vale do Ribeira, para uma entrega de títulos de regularização fundiária.