Afastado das funções de prefeito de Cachoeirinha por 180 dias nesta quinta-feira (30), Volmir José Miki Breier, conhecido publicamente como Miki Breier, é nome forte da política da região metropolitana de Porto Alegre desde os anos 90. Ocupou cargos de relevo no poder Executivo e no Parlamento, em diferentes cidades e nas esferas municipal e estadual, tendo como uma de suas características um ar de tranquilidade típico de quem é ex-seminarista católico e professor de Filosofia.
Miki foi removido temporariamente do poder por decisão da 4ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça, a pedido do Ministério Público, que investiga suposto esquema de pagamento de propina a agentes públicos, incluindo o prefeito, por empresas contratadas como prestadoras de serviço de limpeza urbana, conservação e manutenção de prédios e via públicas. No PSB, partido no qual Miki é filiado desde 2005, a notícia causou “profunda tristeza”, nas palavras de militantes que acompanham o cotidiano da agremiação.
—Tenho relação de profunda confiança no Miki. Conheço a trajetória dele, sei dos seus princípios. Nós, que somos seus admiradores, esperamos que tudo possa ser esclarecido. A sensação é de estarrecimento — diz o vice-presidente estadual do PSB, Juliano Paz, que conhece e trabalha com o prefeito afastado há 30 anos.
Cachoeirinha é, atualmente, a maior cidade gaúcha governada pela sigla, por quatro mandatos consecutivos, e a operação do MP trouxe uma mácula para a sua principal vitrine municipal. Embora seja natural de Cachoeirinha, Miki elegeu-se vereador de Gravataí em 1992, época em que era do PT. Naqueles tempos, o Partido dos Trabalhadores estabeleceria uma hegemonia de quatro mandatos sucessivos na cidade, que se tornou referência regional da indústria automobilística e teve crescimento econômico com a instalação da fábrica da GM, em 2000. Nesse contexto, Miki foi eleito vice-prefeito de Gravataí em 1996, em chapa puro-sangue com o ex-prefeito Daniel Bordignon.
Voltou à Câmara de Vereadores de Gravataí até que, em 2006, já pelo PSB, conquistou uma cadeira de deputado na Assembleia Legislativa. Era o primeiro de três mandatos consecutivos. No Parlamento gaúcho, a bancada do PSB costumava ser diminuta, mas politicamente respeitada, como no período entre 2011 e 2014, quando o partido tinha como representantes Miki, o hoje deputado federal Heitor Schuch e o ex-deputado estadual Catarina Paladini.
O prefeito afastado aprovou 21 leis na Assembleia, dentre elas a que vetou o comércio e o consumo de bebida alcoólica nos estádios de futebol do Rio Grande do Sul, em 2008. Também foi presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia e coordenou as frentes parlamentares em defesa do trânsito seguro, da criança e do adolescente e da vida.
Na trilha partidária, é notória nos bastidores do PSB a ferrenha e antiga disputa entre Miki e o grupo de José Stédile, que se filiou ao PSB quando estava no segundo mandato de prefeito de Cachoeirinha, em 2005. Recentemente, havia rumores de que Miki estaria pavimentando o caminho para deixar a legenda. Ele recebeu convites do PSD e do PDT, mas não havia avançado definitivamente até agora.
No Palácio Piratini, o político foi secretário do Trabalho e do Desenvolvimento Social do governo José Ivo Sartori, entre 2015 e 2016. Deixou o cargo exatamente para concorrer à prefeitura de Cachoeirinha, sua cidade de origem. Naquele ano, acabou eleito para dar prosseguimento ao reinado do PSB na cidade de 132 mil habitantes.
Por um lado, a conquista da prefeitura foi o ponto alto da carreira política. Por outro, abriu um período de problemas, tensões e crescentes suspeitas. Ainda no primeiro mandato, foi alvo de um rumoroso processo de impeachment na Câmara de Vereadores, cujo pedido foi feito por um advogado que era contratado pela direção do PSB — o seu partido — para assessorar os prefeitos. E mais: a peça foi analisada e aceita por um vereador que é cunhado de Miki. O procedimento acabou anulado pela Justiça por declaração de vícios de origem.
Já na reta final do primeiro mandato, passou a ser questionado pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE) sobre supostos gastos acima dos preços de mercado na área da saúde. Reportagens revelaram possível sobrepreço em contratações para a montagem de um hospital de campanha durante a pandemia de coronavírus. À época, o então secretário da Saúde pediu demissão do cargo.
Apesar das dificuldades, em 2020, em uma eleição apertadíssima, Miki foi reeleito com 19.699 votos (32,80%), apenas 318 a mais do que o segundo colocado, Dr. Rubinho (PSL). Agora, logo no primeiro ano do segundo mandato, enfrenta o período mais difícil da carreira política com o afastamento da função de prefeito e sob acusações do Ministério Público de recebimento de propina.
Nas redes sociais, Miki negou qualquer envolvimento com ilícitos: “Mais uma vez, fui alvo de denúncias falsas na tentativa de desestabilizar o governo. Não tenho medo de nenhuma investigação porque jamais cometi qualquer tipo de irregularidade. Assim que eu tiver acesso aos autos do processo, irei prestar todos os esclarecimentos”.