O Ministério de Infraestrutura informou nesta quarta-feira (8) que a Polícia Rodoviária Federal (PRF) atuou para desmobilizar bloqueios de estradas realizados por caminhoneiros em 14 Estados. A previsão, segundo nota da pasta, é garantir o livre fluxo nas rodovias, com a tendência de fim das mobilizações, até a meia-noite. Os bloqueios começaram na quarta (7), durante as manifestações do 7 de Setembro convocadas pelo presidente Jair Bolsonaro.
Segundo o boletim, de 20h30min, são registrados pontos de concentração em rodovias federais com abordagem a veículos de cargas e que, ao todo, já foram "debeladas" 117 ocorrências com concentração de populares e tentativas de bloqueio total ou parcial de rodovias nas últimas horas. No boletim anterior, das 17h30min, citava oito Estados com mobilizações.
Segundo o ministério, em nenhum ponto é registrado bloqueio total da pista. "A PRF encontra-se em todos os locais identificados e trabalha pela garantia do livre fluxo com a tendência de fim das mobilizações até a 0h do dia 9/9."
O ministério informou ainda que os atos não são organizados por qualquer entidade setorial do transporte rodoviário de cargas e que a composição das mobilizações é heterogênea, "não se limitando a demandas ligadas à categoria". A pasta disse ainda que não há previsão, no momento, de que os bloqueios nas rodovias afetem o abastecimento de produtos no país.
Impacto no abastecimento
No entanto, os bloqueios realizados pelos caminhoneiros já preocupam distribuidoras de combustíveis que temem o desabastecimento dos mercados. As empresas avaliam que pode faltar gasolina e óleo diesel nas próximas 12 horas desta quarta-feira. A situação mais crítica é em Santa Catarina e Mato Grosso, mas algumas cidades de outros Estados já estão com fornecimento comprometido.
Esse medo também foi manifestado pela Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC&Logística). Em nota de repúdio aos bloqueios, a entidade que representa transportadoras afirmou que as paralisações poderão causar sérios transtornos à atividade de transporte realizada pelas empresas, com graves consequências para o abastecimento de estabelecimentos de produção e comércio. A entidade reforçou que tais bloqueios e suas eventuais consequências para o abastecimento poderão atingir diretamente o consumidor final e o comércio de produtos de todas as naturezas, incluindo alimentos, medicamentos e combustíveis.
Lideranças
A NTC&Logística, que diz congregar cerca de 4 mil empresas de transporte associadas direta e indiretamente e mais de 50 entidades patronais, afirmou que a movimentação é de natureza política e está dissociada das bandeiras e reivindicações da categoria de caminhoneiros autônomos.
Um dos líderes do movimento intitulado de caminhoneiros patriotas, Francisco Burgardt, conhecido como Chicão Caminhoneiro, diz que entregará, nesta quarta, um documento ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, pedindo a destituição de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
— O povo brasileiro não aguenta mais esse momento que país está atravessando através da forma impositiva que STF vem se posicionando. O povo brasileiro está aqui (Esplanada dos Ministérios) buscando solução e só vamos sair daqui com solução na mão — disse Chicão, que preside União Brasileira dos Caminhoneiros (UBC), em vídeo que circula pelas redes sociais.
Segundo ele, o documento também será entregue a Bolsonaro. Em outro vídeo, Burgardt fala em um prazo de 24 horas para a resposta das autoridades ao pedido do movimento. Até o momento desta publicação, a reportagem não conseguiu contato com Burgardt.
A paralisação, contudo, não é uma decisão unânime da categoria. Entidades que representam caminhoneiros autônomos e que chamam mobilizações a favor de demandas específicas da categoria não aderiram aos atos. Na semana passada, representantes da categoria já consideravam que poderia haver a presença pontual de transportadores nos movimentos, mas de forma isolada, sem organização associativa.
A Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Automotores (Abrava), o Conselho Nacional do Transporte Rodoviário de Cargas (CNTRC), a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística (CNTTL), a Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA), a Associação Nacional de Transporte do Brasil (ANTB), a Federação dos Caminhoneiros Autônomos de Carga em Geral do Estado de São Paulo (Fetrabens-SP), o Sindicato dos Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens do Estado de São Paulo (Sindicam-SP) e o Sindicato dos Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens da Baixada Santista e Vale do Ribeira (Sindicam) informaram que não apoiam a paralisação e não estão participando dos atos, assim como a NTC&Logística.
O presidente da Abrava, Wallace Landim, conhecido como Chorão, avalia que o movimento é de cunho político com participação de empresários de transporte e seus funcionários celetistas, e não de transportadores autônomos.
— Os caminhoneiros estão sendo usados como massa de manobra. Existe um movimento com interesse de empresas e do agronegócio por atrás do financiamento desses atos. Está claro que a pauta não é da categoria — disse Chorão.
De acordo com ele, uma greve geral neste momento seria prejudicial às atividades dos autônomos.
— Uma paralisação neste momento tiraria vários transportadores do ramo e ainda em uma pauta política seria prejudicial à categoria. Muitos motoristas não conseguiriam parar 10 a 15 dias — afirmou Chorão, que foi um dos principais líderes da categoria na greve de 2018.
O diretor da CNTTL, Carlos Alberto Litti Dahmer, relatou ter visto alguns pontos de manifestações de caminhoneiros, "conforme era esperado" diante de manifestações de Bolsonaro.
— Vimos veículos do agronegócio, como tratores e máquinas agrícolas, e a ala de patriotas apoiadores do presidente Bolsonaro. O transportador autônomo vai continuar tentando trabalhar — disse Litti à reportagem.
A CNTTL enviou recentemente um ofício ao presidente do STF, ministro Luiz Fux, repudiando os atos "extremistas", as declarações do cantor Sérgio Reis e de "pseudo lideranças" de caminhoneiros, dizendo que não compactua com nenhuma manifestação antidemocrática.